Nesta terça-feira, revelamos em primeira mão que o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, decidiu processar, por injuria e difâmação, o jornalista Juracy Andrade.

O motivo da querela é um artigo, institulado Pastoral Imobiliária, escrita para a revista Algo Mais, em que o ex-seminarista Juraci Andrade escreve sobre operações imobiliárias da Santa Casa de Misericórdia.

Finalmente, o blog consegue reproduzir o texto que tirou o bispo do sério e o levou a ir à Justiça dos homens.

Pastoral imobiliária em crise Por Juracy Andrade Foi recebida com surpresa e estranheza a notícia da abertura de inquérito administrativo, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, para investigar ações da Santa Casa de Misericórdia.

Inclusive, está afastada temporariamente a diretoria da entidade.

Por que a surpresa? É que são conhecidos o bom entendimento e a estreita cooperação entre a organização e o governo arquiepiscopal.

Em sua aparição na festa de Nossa Senhora no Morro da Conceição, dom José Cardoso Sobrinho falou sobre ‘muitas dúvidas e interrogações’ em torno da Santa Casa, mas não especificou qual o tipo de irregularidade que está sendo investigada.

Na ausência de informações oficiais, pode-se presumir que se trata talvez do encolhimento do patrimônio eclesiástico local quando era gerido pelo dirigente-mor da Santa Casa, sr José Rosendo, que já foi ecônomo (tesoureiro) da Mitra.

A falta de informações dá lugar a especulações, muitas fundamentadas em fatos.

Sabe-se que a grande característica da atual administração arquidiocesária é a “pastoral imobiliária”.

Nunca antes nesta arquidiocese (parodiando Lulinha Paz e Amor) se fizeram tantos negócios imobiliários.

O que incluiu a antiga sede da Cúria, na Rua do Giriquiti (hoje um centro de compras), dentro do sistemático desmonte das lembranças de Dom Helder (quanta pretensão!).

Graças à intervenção da PCR, o frontispício do prédio foi preservado.

Outro negócio envolvendo Mitra e Santa Casa é a restauração e redimensionamento do Paço Alfândega.

Consta que a certa altura faltou dinheiro e a dupla Rosendo/dom José teria contratado um empréstimo de R$ 5 milhões no Banco do Nordeste, dando como garantia valiosos imóveis da Santa Casa.

Daí, cogita-se, o empenho da dupla na venda da imensa área verde do Hospital Ulisses Pernambucano (Tamarineira), que valeria R$ 20 milhões.

No Bojo da “pastoral imobiliária”, figura também um escabroso caso ocorrido com a herança deixada pelo médico e professor Ruy João Marques.

Aqui abro um espaço para homenagear esse grande cristão a quem eu era ligado por laços familiares.

Ele era discípulo e amigo de um tio meu, o bispo dom João Portocarrero Costa, um homem de Deus e não um simples funcionário do Vaticano.

O caso está documentado, apesar de dom José ter obrigado o vigário da paróquia de Nossa Senhora dos Remédios a desdizer tudo que já havia dito antes.

Afastado da paróquia e desgostoso, padre Cândido terminou morrendo vítima de um acidente automobilístico.

Em seu testamento, o professor Ruy deixou uma casa, da qual apropriou-se a Mitra para, em seu afã pastoral imobiliário, construir ali um valioso prédio de apartamentos.

A intenção expressa do doador era que a doação servisse a obras de caridade.

Conseguiram até mudar o testamento.

Como no caso da Rua do Giriquiti, de cujo terreno foi expulsa uma senhora que ali vivia havia anos, o caseiro do professor também foi expulso “pastoralmente”.

A paróquia não viu a cor de um centavo da doação que recebera.

Mesmo com toda essa movimentação financeira, consta que há um rombo de R$ 11 milhões na contabilidade arquidiocesana.

Como o arcebispo é reconhecidamente autoritário e avesso ao diálogo, quase ninguém do seu clero e adjacências ousa abrir a boca para falar do que muitos consideram desmandos.

Esta revista está publicando uma reportagem sobre o assunto.

Em off, fala-se muito das despesas mensais do Palácio dos Manguinhos e do Seminário de Olinda (a tradicional e multissecular instituição, a mais antiga escola superior de ensino, de 1800, é praticamente dirigida por uma irmã do arcebispo), e de uma conta pessoal de sua Excelência Reverendíssima em Roma.

Seria no Banco do Vaticano, que tem o sugestivo nome de Instituto per le Opere de Religione?

O que teria levado ao desentendimento (aparente, mas pode ser armação) entre o arcebispo e o senhor Rosendo?

O dirigente da Santa Casa (interventor ali há mais de 20 anos) disse, em entrevista ao Jornal do Commercio, que presta contas de sua intervenção diretamente ao arcebispo.

A “pastoral imobiliária” tem injunções e limitações de mercado, pautando-se pelo direito, inclusive o canônico (do Vaticano) e não pelo Evangelho e a tradição apostólica.

Dúvidas, interrogações, especulações, alguns fatos, poucas informações por enquanto.

PS: Juracy Andrade é jornalista.

PS2: assim que for possível, estaremos publicando as argumentações do bispo, com base na ação apresentada à justiça.