Do Estadão de hoje A Polícia Federal apreendeu na residência do lobista João Pedro de Moura, amigo e ex-assessor do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, comprovante de um depósito bancário no valor de R$ 37,5 mil em favor da ONG Meu Guri Centro de Atendimento Biopsicossocial, presidida por Elza de Fátima Costa Pereira, mulher do parlamentar e tesoureira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
Moura é apontado pela Procuradoria da República e pela PF como mentor e principal articulador do esquema de desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que há três semanas caiu na malha da Operação Santa Tereza.
Ex-conselheiro do BNDES, Moura foi apanhado pela interceptação telefônica da PF negociando partilha de recursos liberados para prefeituras.
A Procuradoria da República considera ter “provas cabais” de irregularidades em três contratos de financiamento do banco, que somam R$ 400 milhões.
O depósito na conta da ONG Meu Guri foi realizado no dia 1º de abril, segundo o registro bancário número 202.020.
Para a PF, o documento reforça a suspeita de que parte do dinheiro do BNDES que transitou pela organização pode ter sido repassada a um núcleo de ONGs.
A polícia decidiu pedir à Justiça Federal a quebra do sigilo bancário da Meu Guri para verificar a movimentação financeira da entidade e a origem dos recursos que a mantêm.
A PF passou a suspeitar que o esquema BNDES ia bater de frente com entidades assistenciais quando pegou no grampo o coronel da Polícia Militar Wilson Consani.
Na véspera da Santa Tereza, noite de 23 de abril, o oficial tentou avisar a cúpula do PDT e da Força Sindical sobre a operação.
Numa ligação, ele soltou: “É o negócio das ONGs”.
A Meu Guri se declara uma associação civil, sem fins lucrativos, que atua na área de assistência social.
Abriga crianças e adolescentes “em situação de risco social e trabalha pela reestruturação das famílias”.
Foi fundada em 1997, por iniciativa de Elza e Paulinho, na época presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
O projeto é desenvolvido “em parceria com empresários e trabalhadores, que contribuem financeiramente”.
Segundo a entidade, Paulinho e Elza, “indignados pelo crescimento do caos social e, principalmente, com o grande número de crianças que habitavam as ruas próximas à antiga sede do sindicato, na Praça da Sé, decidiram implantar um projeto que possibilitasse a essas crianças ter um atendimento diferenciado”.
Na terça-feira, Paulinho defendeu-se na Câmara e repeliu a acusação de que estaria envolvido com o desvio de verbas do BNDES.
Como prova de isenção, abriu mão do sigilo bancário.
A busca da PF ocorreu na manhã de 24 de abril, quando a Santa Tereza foi deflagrada.
DEFESA O advogado criminal Frederico Crissiuma de Figueiredo, que defende Moura, disse que as explicações vão ser dadas à Justiça.
Ele será interrogado dia 26. “Nessa oportunidade, todas as dúvidas vão ser esclarecidas.” Antonio Rosella, advogado de Paulinho, esclareceu: “Meu Guri é entidade que vive de doações para manter um projeto maravilhoso que abriga 40 crianças.
Há uns 6 anos, João Pedro doou um imóvel à ONG.
Esse imóvel fica no bairro da Aclimação, em São Paulo, e vale aproximadamente R$ 100 mil.
O problema é que Meu Guri não conseguiu vender o imóvel, que passou a acumular dívidas de impostos e condomínios.” Segundo Rosella, a Meu Guri fez um acerto com Moura, que retomou o imóvel e reverteu a doação para a ONG em dinheiro. “Está tudo documentado.
Não há nada de irregular.
Esse depósito de R$ 37 mil corresponde à reversão da doação de um imóvel doado há 6 anos.”