Em 24 de abril de 2008, a prefeitura do Recife inaugurou um túnel ainda sem nome na Rua Manoel de Brito que evita o cruzamento com a movimentada Avenida Herculano Bandeira e liga as Avenidas Antônio de Góis e República Árabe Unida, no Pina, no Recife.

Gastou na obra R$ 24 milhões.

Vistoso, pois tem cabeceiras proeminentes, o túnel não vem sendo bem aceito pela população.

Uns lembram que, embora promova o desvio subterrâneo do fluxo transversal, o intenso trânsito na Avenida Herculano Bandeira continua embaraçado, pois, sem contemplar solução para o intenso movimento de pedestres, a obra não evitou o semáforo na interseção dos logradouros e, por isso, o engarrafamento no local continua tão irritante como sempre.

Está lá: embaixo, poucos carros cruzando o túnel, ao nível da Avenida Herculano Bandeira, guardados pelo necessário semáforo, os pedestres fazendo a travessia e, finalmente, o velho engarrafamento na Avenida Herculano Bandeira.

Outros, dizem que o tráfego em direção à Avenida República Árabe Unida é pequeno e, por isso, atualmente o túnel é desnecessário.

Provavelmente como alegoria maldosa, alguém já falou em convocar partidas de futebol para o tubo aberto sob a avenida que faz a ligação à zona sul da cidade.

Maldade, pura maldade.

Outros, ainda, os mais radicais, chegam ao extremo de dizer que o túnel não serve nem para homenagear, pois sequer nome tem (houve quem propusesse que a prefeitura batizasse o túnel de \Dona Lindu\ e, em troca, deixasse de atanazar a população da zona sul com a idéia de construir o centro de entretenimento no Parque de Boa Viagem). É isso aí.

No dizer da maior parte da população, por enquanto, aquele túnel serve para nada.

Mas, a Prefeitura tem respostas para tudo e para todos.

Para os que falam que, mesmo tendo consumido R$ 24 milhões dos cofres públicos, o túnel não foi capaz de evitar o engarrafamento no local, prefeitura diz que, um dia, quando for possível a remoção do semáforo que permanece no leito normal da Avenida Herculano Bandeira, o túnel vai permitir o melhor escoamento do trânsito no local.

Pelo cronograma anunciado, em oito meses, a um custo de mais R$ 3,5 milhões, a municipalidade inaugurará uma moderna passarela sobre o cruzamento da Avenida Herculano Bandeira com a Rua Manoel de Brito e, finalmente, o semáforo desaparecerá, aumentando a fluidez do trânsito.

Para aqueles que falam do pouco movimento entubado, a Prefeitura do Recife diz que o movimento no túnel vai crescer aos saltos, pois, em 18 meses surgirá naquela região um conjunto habitacional com 350 apartamentos, e, em 24 meses (contados a partir de agosto), estará pronto um pedaço da Via Mangue. É esperar para ver.

Para os chatos (e, talvez, os mais maldosos), que associam o fato do túnel ter sido inaugurado sem ter sequer nome à pressa da administração em celebrar o contrato no valor de R$ 24 milhões com a construtora Camargo Corrêa, a Prefeitura do Recife diz que, um dia, quando estiver aprovado pela Câmara Municipal do Recife, o túnel vai se chamar Josué de Castro.

Belo nome.

De qualquer forma, por mais elaboradas que sejam as respostas da Prefeitura do Recife, não é sem razão que a população da zona sul não esteja entusiasmada com a obra, pois a realidade mostra que, hoje, aquele túnel liga o nada ao coisa alguma.

PS: Alexandre Santos é presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco e presidente do PSOL no Recife.

Por Alexandre Santos