São 11h30min e a ministra Dilma Rousseff está dando um banho na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.

Também, pudera.

A primeira providência da oposição foi destacar sua condição de vítima da ditadura militar e lhe dar palanque para um contundente discurso sobre seu papel na resistência à época.

Dilma lembrou que tinha 19 anos (19 anos!) quando foi presa, torturada e acabou passando dois anos na cadeia.

Falou do quanto dura e do quanto dói a tortura.

Mostrou que mentir, nesse caso, era um ato de bravura. “Eu não tinha nenhum compromisso em dizer a verdade para a ditadura.” E aproveitou para uma estocada tão sutil quanto profunda contra o senador José Agripino Maia, do DEM, que tinha tentado colocar a ministra contra a parede, acusando-a de falar mentiras e de defender mentiras.

Depois de falar da ditadura, da tortura, dos desaparecimentos e das mortes, foi no fígado: “E nós estávamos em campos opostos”.

Ou seja, ela na resistência a tudo isso.

Ele, oriundo da Arena e do PDS, a favor.

A oposição encolheu, Dilma cresceu e passou a fazer um verdadeiro comício sobre as vitórias do país durante o governo Lula, do “investment grade” aos índices de desenvolvimento que se mantêm positivos há vários trimestres, ao aquecimento da indústria, à criação de empregos e até a programas específicos, como o Prouni e o Pronaf.

Até comparou: no Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é campeão no combate à desigualdade social.

Ao contrário da desastrada entrevista que a ministra deu no Planalto para tentar defender o indefensável –o dossiê da Casa Civil contra o governo FHC—, Dilma estava segura, composta.

Até quando se atrapalhou com a palavra “monitoramento”, ela riu e deu a volta por cima.

Só depois de ganhar a situação, ela passou ao tema da convocação, que é justamente o que ela mais gosta: o PAC.

E não teve pressa em falar de megawatts, enumerar vários rios desconhecidos, projetos mirabolantes e fantásticos.

Evidentemente, ganhava tempo no seu terreno, para adiar a entrada no pantanoso terreno da oposição: o dossiê.

Agora, é acompanhar e ver como se desenrola a sessão.

E saber se, enfim, a convocação da ministra acabou tendo um efeito bumerangue.

Em vez de bater na testa dela, vai deixar a oposição com cara de boba?

A conferir.

Por Eliane Cantanhêde