O sociólogo Simon Schwartzman, 68 anos, ex-presidente do IBGE, faz críticas ao projeto de transposição do São Francisco, nas páginas amarelas da Veja desta semana.

Ele defende mais pesquisas acadêmicas sobre este e outros temas.

Acompanhe o trecho.

Veja – Qual a responsabilidade dos órgãos oficiais de financiamento à pesquisa nessa situação?

Schwartzman – O sistema de avaliação dos centros de pesquisa e pós-graduação utilizado pela Capes tem mais de trinta anos.

E foi muito importante para o Brasil.

Graças a ele, o país tem hoje uma pós-graduação que é de longe a melhor da América Latina.

Mas já está ultrapassado.

Ele dá muita ênfase aos trabalhos acadêmicos e desestimula qualquer iniciativa prática.

Os critérios de qualidade levam em conta o número de artigos publicados, o número de doutores formados e a participação em congressos internacionais.

A aplicação da pesquisa não é valorizada.

Com isso, os pesquisadores só querem publicar artigos em revistas internacionais e, assim, contar pontos para seu departamento.

Depois de o artigo ter sido publicado, eles não se interessam em procurar uma empresa para desenvolver o produto.

Consideram mais vantajoso à carreira iniciar outra pesquisa, para publicar um novo artigo.

Veja – O que o Brasil perde com isso?

Schwartzman – Há dois tipos de perda.

O setor privado perde uma excelente oportunidade de evoluir tecnologicamente.

E o governo também perde, pois não usa o saber acadêmico para auxiliá-lo na formulação de políticas públicas.

Há uma série de demandas por pesquisa em diversas áreas.

Em saúde, por exemplo, para controlar a dengue.

Na formulação de políticas de segurança, na administração de complexos urbanos.

São linhas de estudo que o governo deveria estimular – e usar.

O Brasil precisa do melhor conhecimento para lidar com suas questões econômicas e sociais, e não pode abrir mão dos centros de excelência das universidades.

Veja só a área da educação, em que o país vive uma tragédia.

Temos um sistema educacional que não ensina.

As crianças entram na escola e saem semi-analfabetas com 13 ou 14 anos de idade.

Faltam estudos para entender o que está acontecendo, quais as saídas, o que funciona e o que não funciona.

A área do meio ambiente é pior ainda.

Eu nunca vi um estudo sério e competente sobre a transposição do Rio São Francisco