Quinhentas vozes gritaram a favor da descriminalização da maconha ontem no Recife, uma das poucas capitais onde a Marcha da Maconha não foi alvo de veto judicial.
Os manifestantes não tiveram vergonha de mostrar o rosto, apesar de alguns estarem mascarados, e deixaram claro, pelas ruas do Bairro do Recife, que desejam mudanças na política antidrogas.
No Brasil, a passeata aconteceu também em Florianópolis (SC), Vitória (ES) e Porto Alegre (RS), ao contrário de outras sete capitais onde a Justiça julgou haver apologia às drogas.
Na capital pernambucana, a Polícia Militar (PM) acompanhou o protesto da Rua do Apolo até a Rua da Moeda sem registrar incidentes.
A PM quantificou os manifestantes e garantiu que estava ali para “manter a ordem pública”.
Estudantes, professores, artistas e políticos, entre outros, formavam o heterogêneo grupo que pregava respeito à diversidade e a mudança da Lei Federal 11.343, conhecida como Lei Antidrogas.
Para os organizadores da marcha, a violência gerada pelo tráfico só pode ter fim após a legalização. “Nosso objetivo é mudar a lei, permitindo produção e consumo legal.
Queremos levar isso ao Congresso”, explicou o coordenador da Associação dos Usuários e Ex-usuários de Álcool e outras Drogas de Pernambuco, Gilberto Borges.
Ele comemorou o clima democrático no Estado e lamentou as proibições pelo Brasil.
Entre os que apoiaram o movimento, estava o vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Tales de Castro.
Revelou que a UNE inicia, este mês, caravana que debaterá a descriminalização em 47 universidades. “Diferenciamos maconha das outras drogas. Álcool e tabaco são legalizados, fazem mal e beneficiam grandes grupos econômicos.” Artistas e políticos também se manifestaram.
O músico Zé da Flauta, do Quinteto Violado, classificou a proibição da maconha de “sem sentido” e defendeu um amplo debate social.
O pré-candidato do PSOL à Prefeitura do Recife, Edilson Silva, disse que o partido apóia a discussão.
Pelas ruas, muitos demonstraram apoio, embora alguns estranhassem o protesto. “Penso que álcool é mais perigoso que maconha.
Não entendo por que não discutir a questão (da descriminalização)”, opinou Laura Büning, assistente social alemã em intercâmbio no Recife. “Não acho certo usar droga, mas todos têm direito de se manifestar”, disse o comerciante recifense Manoel Gomes, 39.
Do caderno de Cidades