Por André Regis Na quarta (30/04/2008), o Presidente Lula deu mais um show de comunicação (nessa área ele é imbatível).

Diante de uma seleta platéia, com destaque para o ex-Presidente Collor e para o ex-Presidente do Senado, Renan Calheiros, Lula festejou a “conquista” pelo Brasil do status de investment grade (IG) classe BBB- (antes era BB+) pela renomada Standard and Poor`s, que é uma das empresas que orientam os investidores acerca de riscos concernentes ao mercado internacional de capitais.

Para a S & P é confiável quem pratica políticas neoliberais.

Quanto mais neoliberal maior o conceito do país.

Afirmou com entusiasmo o Presidente: “o Brasil foi declarado (pela Standard and Poor`s) um país sério”.

Percebam o peso que deu o Presidente a uma decisão de uma empresa privada, fiscal do capitalismo internacional.

Foi como se ele tivesse dito, em outras palavras: “somos confiáveis, viva o capitalismo, viva o neoliberalismo!”.

Fico me perguntando como reagiram seus companheiros de partido e de esquerda a tal comportamento do Presidente, como, por exemplo, Maria da Conceição Tavares?

Como reagiram seus companheiros antiglobalização do Fórum Social Mundial, ao verem tal exaltada comemoração do Presidente?

Digo isso, pois o discurso do PT e dos integrantes do FSM sempre foi associado à resistência ao capitalismo, ao neoliberalismo e à globalização.

Na prática a declaração da Standard and Poor’s significa que o investidor pode investir no Brasil, pois aqui não haverá moratória de pagamentos aos investidores estrangeiros.

Quem colocar seus dólares no Brasil vai receber o dinheiro de volta com os devidos, e grandes, lucros.

O interessante é que a classificação do Brasil era baixa, principalmente, por três fatores: a) reflexo da moratória decretada por Sarney, após o fracasso do Plano Cruzado; b) instabilidade política e institucional gerada pela freqüência dos chamados pacotes econômicos heterodoxos; e, c) risco de nova moratória num possível governo do PT (o PT defendeu, antes de chegar ao poder, o não pagamento da dívida externa).

Considerando que a moratória de Sarney já está muito distante na memória do mercado, que já estamos há mais de uma década de execução de política econômica ortodoxa, e como, finalmente, com Lula no poder o PT não tem vez na área econômica (quem manda é o tucano Henrique Meirelles, todo poderoso Presidente do Banco Central).

O mercado internacional não tem motivo para desconfiar do Brasil.

Também devemos ressaltar que a melhora do conceito já vinha ocorrendo há bastante tempo.

O fato é que, o mercado confia, pois, na área econômica, há um consenso entre governo e oposição.

Quando alguém ouviu alguma crítica a política econômica do governo Lula pelo PSDB ou pelo Democratas.

Figura de destaque neste contexto de estabilidade e aproximação é Pedro Malan.

Malan como presidente do Banco Central arquitetou o Real, como ministro, o implementou e, antes de deixar o cargo, convenceu seu amigo Antonio Palocci a seguir na linha da ortodoxia.

Vale, inclusive, registrar, a inversão de importância entre os cargos de Ministro da Fazenda e de Presidente do Banco Central, após a saída de Palocci.

Antes, o presidente do Banco Central era um subordinado e um liderado do ministro da fazenda, hoje, acontece, na prática, o inverso.

O ministro Guido Mantega é simplesmente um fantoche, defende o que combateu.

Hoje, tudo o que o Banco Central faz é exatamente o oposto do que era e, ainda, é pregado pelos economistas e ideólogos petistas, que, não obstante, faturam os bons resultados da economia.

Para quem tem dúvida quanto à rendição de Lula ao neoliberalismo, em mais uma de suas facetas como metamorfose ambulante, chama atenção a opinião de Anoop Singh, diretor do FMI, que em declaração ao New York Times afirmou que a Standard and Poor’s melhorou sua percepção em relação ao ambiente econômico brasileiro, principalmente, em virtude de políticas adotadas (adotadas no governo FHC e mantidas por Lula), assimiladas e incorporadas pelo mercado e pela sociedade brasileiras, tais como: privatizações (1990 – 2002), metas de inflação (1999), câmbio flutuante (1999), Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) e Superávit Primário (1998).

Essas políticas conduziram ao atual momento de estabilidade da economia brasileira, reduzindo sua vulnerabilidade em relação a crises internacionais.

Ainda de acordo com Singh, o Brasil tem muito por fazer se quiser melhorar sua classificação.

Certamente, o próximo passo será, além de investir em infraestrutura e reduzir os gastos governamentais, aprofundar outros itens da agenda neoliberal como, por exemplo, ampliar a intervenção na economia por agências reguladoras.

Pela euforia do Presidente com a chegada do investment grade, e enquanto Meirelles estiver no comando da área econômica, não devemos ter dúvidas de que em breve o Brasil deverá melhorar ainda mais sua posição no ranking da Standard and Poor`s, pois a agenda econômica deste governo, como continuidade da gestão FHC, é neoliberal, como gosta o mercado internacional.

Apenas imagino como andam as mentes dos fervorosos defensores da agenda econômica alternativa às reformas neoliberais?

Afinal, por que calam, era tudo encenação?

Ou todos se converteram?

PS: André Regis é Ph.D. em Ciência Política pela New School For Social Research de Nova York.

Doutor em Direito pela UFPE.

Conselheiro Federal da OAB.