Sobre a popularidade de Lula Diogo Mainardi, em Veja Em janeiro de 1998, a dois anos e meio do fim do segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tinha 73% de aprovação dos eleitores.

Só para lembrar: duas semanas antes da realização da pesquisa, ele mentira em juízo, negando num tribunal que tivesse mantido relações sexuais com Monica Lewinsky.

A mentira desencadeou um processo de impeachment contra ele, que durou até os primeiros meses de 1999.

O que aconteceu com sua popularidade?

Nada.

Continuou lá em cima, no patamar dos 73%.

Quando ele deixou o cargo, no final de 2000, sua aprovação ainda estava em 68%.

Lula é popular.

Sua aprovação está beirando os clintonianos 70%.

Criaram-se alguns mitos em torno disso.

Primeiro mito: Lula é um caso inexplicável, atípico.

Segundo mito: a oposição não deve fazer oposição, se seu objetivo é ganhar em 2010.

Terceiro mito: Lula pode fazer o que bem entende e, se ele não se candidatar a um terceiro mandato, deveremos agradecer unicamente ao seu espírito democrático.

Três engodos.

A popularidade de Clinton se manteve alta porque a economia americana, de 1997 até 2000, cresceu a uma taxa superior a 4% ao ano. É exatamente o que está acontecendo com Lula.

O eleitorado é assim mesmo: maricas e reacionário.

Isso não significa que a discussão sobre o país tenha de ficar paralisada.

Pelo contrário.

A estratégia dos republicanos foi bater cada vez mais forte em Clinton.

Deu certo.

Apesar de manter a popularidade, Clinton perdeu a capacidade de ditar a agenda política dos Estados Unidos, tornando-se progressivamente mais irrelevante.

O tempo passou e, hoje em dia, ele é um peso morto até mesmo para a campanha de sua mulher.

Em minha última coluna, tratei do caso do ministro da Pesca.

Em 2006, num ato público, ele fez campanha eleitoral para Lula.

O episódio é pequenininho, porque o ministro da Pesca é pequeninho (note que, cuidadosamente, evitei chamá-lo de “peixe pequeno”), mas é exemplar do que acontece nos cafundós do país.

O abuso da máquina estatal corrompe a democracia, e o que surpreende, na verdade, é que a popularidade de Lula não seja ainda mais alta.

O aspecto extraordinário do caso do ministro da Pesca é outro: ele foi filmado.

Apresentei as imagens inéditas no portal da Veja.

A ilegalidade de seu ato é indiscutível.

A questão agora é saber se ele será punido ou não.

Estou me lixando para o ministro da Pesca.

Por mim, ele pode passar o resto da vida fazendo campanha eleitoral em Limoeiro do Ajuru.

Aliás, é o que eu sinceramente desejo a ele.

Mas o caso tem o poder de revelar o grau de esfarelamento institucional do Brasil.

Há uma diferença entre aprovar um presidente e tornar-se cúmplice dos crimes cometidos durante seu governo.

Essa é a diferença que está em jogo.

A diferença entre o presente e o futuro.

Entre um país de verdade e um país de mentira.