Da editoria de Política do JC Na briga entre tradição e legalidade, valeu a eqüidade.

A Câmara de Vereadores de Igarassu pôs fim a uma tradição de 254 anos.

Santo Antônio, vereador perpétuo da cidade, não receberá mais salário do Legislativo.

A decisão, informada ontem, foi tomada sexta-feira e comunicada ao Ministério Público de Pernambuco, que ameaçava barrar na Justiça o pagamento.

Mas os legisladores mantiveram o título de vereador perpétuo e prometerem fazer uma “cotinha” para manter o repasse do dinheiro ao Convento de Santo Antônio, beneficiário do salário.

Santo Antônio foi nomeado vereador em 1754 pelo rei de Portugal d.

José I.

Seu salário serviu para manter a Ordem Franciscana na vila de Igarassu.

A prática foi interrompida em 1889 e retomada em 1951.

A remuneração do santo, hoje de R$ 415, ajuda a custear creches e escolas mantidas pelo Convento de Santo Antônio para crianças carentes do município.

Há 17 dias, o caso foi objeto de matéria no Fantástico, da Rede Globo.

Depois disso, a promotora de Justiça de Igarassu, Maria Lizandra Lira, recomendou à Câmara cancelar o pagamento.

O presidente da Casa, Valdemir Nunes de Souza (DEM), admitiu que os 10 vereadores tomaram uma decisão política. “Trilhamos essa saída jurídica para conciliar com a tradição.

Agora o santo só detém um título honorífico e não sai dinheiro dos cofres da Câmara”, afirmou.

Ele acredita que o MPPE não vá mais acionar a Câmara na Justiça.

As mudanças não devem alterar a rotina.

Amanhã (30), dia do pagamento, a freira Zélia Maria de Souza, 70 anos, coordenadora do trabalho social do convento, irá à Câmara receber o salário do santo.

Só que, desta vez, pago pelos vereadores.

Cada um desembolsará R$ 41,50.

PS: para ficar tudo certo, só falta o MP processar os vereadores, para que o dinheiro que foi desviado seja restituído aos cofres públicos.

Quer fazer caridade, faça, mas com o dinheiro alheio ou público, não!