Por Fernando Castilho, da Coluna JC Negócios Além do Corredor Leste Oeste Por maior boa vontade que se tenha, por mais favorável que se possa ser com a proposta de incentivo ao transporte de massa e por mais resistente que se possa ser às reclamações de donos de automóveis que, pelo menos dessa vez, não receberam o maior volume de investimentos destinados à sua acessibilidade, não dá para deixar de reconhecer que o projeto do Corredor Leste Oeste ainda não funcionou, a despeito do custo de R$ 14 milhões, em parte usados na requalificação da Avenida Conde da Boa Vista.
A seriedade do debate, naturalmente, vai um pouco mais além dos factóides oportunistas de alguns críticos performáticos.
Exige seriedade e compromisso com a cidade, que vai bem, obrigado, quando o poder público abre largas avenidas para carros e vai muito mal quando tenta priorizar o passageiro de ônibus. É ai que a coisa pega.
O problema do espetacular engarrafamento que há três semanas acontece no começo e no fim da Avenida Conde da Boa Vista está na absurda quantidade de ônibus que de certa forma o Sistema de Transporte Público de Passageiro pôs no Centro do Recife, cuja racionalidade é pouco justificada.
Especialmente se medida pelo número de passageiros que transporta, mesmo no horário de pico.
E, é claro, pela ousada proposta de ampliar em quase um terço a área destinada às calçadas que, na prática, retirou um terço da avenida, dificultando a própria circulação dos ônibus em apenas duas faixas de rolamento.
Mas ele serve de ponto de partida para se saber o que vem depois do corredor em favor do passageiro.
Por que tem tanto ônibus no Centro?
A questão para qual se exige resposta é se depois da implantação do corredor a Prefeitura e a EMTU vão ficar tentando salvar o projeto apenas retirando ônibus.
Não vai funcionar.
Se a tendência for mantida, a própria lógica do projeto vai para o espaço, pois em breve corremos o risco de proibir a circulação de ônibus da cor amarela, depois da cor verde e a seguir branco.
A questão é: o que fazem na Avenida Conde da Boa Vista 800 ônibus?
E por que foram colocados para circular ali?
E quanto isso custa na passagem?
Acessibilidade A idéia de entupir o Centro do Recife vem do tempo do discurso de dar acessibilidade ao passageiro sem levar em conta que fisicamente ele não a comporta.
Daí a atender pedidos de políticos e lideranças comunitárias foi uma parada de ônibus.
Centro Histórico É bem verdade que o movimento veio no sentido de permitir que, com uma passagem, o usuário fosse de um extremo a outro no centro expandido no mesmo ônibus.
Mas isso retardou a implantação de terminais integrados que reduziriam o fluxo atual.
Esvaziamento A opção pelo transporte por ônibus do Centro tirou o charme da parte mais pictórica da cidade e transformou suas calçadas numa central de distribuição de produtos piratas.
E aumentou a produção de lixo na área central.
A falta de estacionamento para automóveis esvaziou a região.
Crise prevista O caos do Corredor Leste-Oeste no horário de pico, portanto, exige um debate mais sério do que a simples crítica de que está tudo errado e que a Prefeitura investiu um valor alto no projeto.
Exige honestidade de propósitos de toda a cidade.
E isso inclui quem se habilita a administrá-la.