Por Mendonça Filho* Aprendi muitas lições com a experiência da vida pública, entre elas a de que a cultura tem um valor em si mesma: enriquece o imaginário social; capacita as pessoas para melhor decidir sobre seu próprio destino; realça a beleza da diversidade; torna as sociedades mais humanas e democráticas.

Por isso, nascer e viver no Recife, uma cidade com riqueza histórica e uma diversidade cultural única no País, é motivo de orgulho.

Esse sentimento, ao mesmo que envaidece, gera preocupação com a preservação da nossa arte e da nossa cultura, que está sendo produzida nos quatro cantos da cidade.

E exige discussão sobre o papel da gestão municipal na definição de uma política cultural que respeite a liberdade de criação, valorize o artista local, trabalhe com previsibilidade e induza o Recife a “falar para o mundo” e não apenas para si mesma ou no máximo para Pernambuco.

Nas minhas conversas que venho mantendo com o povo do Recife e com os artistas constato que a cultura é riqueza coletiva e gênero de primeira necessidade.

Tanto que nas nossas periferias a arte e a cultura produzidas, principalmente pelos nossos jovens, “teimam” em nos alertar que é insuficiente tratar a cultura nas estreitas dimensões do entretenimento e do bem econômico.

A cultura entre tantos valores tem um de cunho social, que é o de seduzir nossos jovens para um mundo de criação, expressão e produção, afastando-os de um futuro sem perspectiva e da marginalidade.

O que reforça a opinião que ouvi de um artista, segundo a qual, uma criança que toca um instrumento não rouba.

Opinião com a qual concordo plenamente, pois a solidez cultural da comunidade é o alicerce de uma cidadania esclarecida e emancipada.

Na sua nobre função de ampliar a consciência individual e social, a cultura produz uma riqueza imaterial que pode e deve produzir riquezas materiais para uma complexa cadeia de produção.

Deve-se respeitar a produção artística e cultural nas suas etapas principais: a formação, o processo e o produto final.

O Recife não tem uma política cultural com essa amplitude de visão.

Os nossos artistas e a nossa produção cultural não podem ficar a mercê de um suposto planejamento que reduz a nossa expressão cultural basicamente a três momentos no ano: o carnaval, o São João e o Natal.

Muito menos a falta de previsibilidade sobre a participação num evento deste.

Tenho conversado com artistas e escutado relatos freqüentes de que a confirmação da participação só se dá na véspera, com “oferta” de um cachê mísero e na base do “é isso ou nada”.

O que é inadmissível por ser, na melhor das hipóteses, desrespeitoso a um dos bens mais precioso de um povo, o artista.

Nos meus 42 anos de vida aprendi a lição de apreço à cultura e de admiração por todos aqueles que produzem um bem imperecível e de fruição coletiva.

Os homens do poder passam.

A história julga e pode lhes reservar bons e maus veredictos; o esquecimento ou a glória póstuma.

Os homens da cultura não passam porque constituem a alma da Cidade e a alma não morre.

Diferentemente do que ocorre com os simples mortais, a glória dos artistas é uma recompensa antecipada no tempo.

Pernambuco e o Recife têm um dos patrimônios culturais mais ricos e diversificados do Brasil.

O povo se revela na sua imaginação criadora, através dos seus artistas, insubmisso a rótulos e escolas.

Essa imaginação criadora vai além e ultrapassa as fronteiras de um formalismo vesgo que separa o erudito e o popular.

E que papel caberia aos governos, especialmente, ao governo municipal diante do patrimônio cultural da cidade?

Tenho convicção de que ao governo municipal cabe as tarefas de permitir a liberdade plena de criação; viabilizar recursos orçamentários e dos incentivos fiscais e financeiros; difundir e distribuir a produção artistico cultural; planejar com antecedência o calendário dos eventos para dar o devido valor a quem produz e ao bem produzido de modo a alcançar resultados eficazes; proteger a produção local de invasões que prejudiquem a produção local sem que isto signifique aversão ao que é bom e vem de fora.

Considerando que a cultura é elemento da identidade de um povo que se reconhece na medida em que conhece sua cultura, aos governos cabe oferecer a liberdade plena para criar; respeitar as preferências e os alinhamentos ideológicos e jamais discriminar ou excluir os artistas pelos seus pensamentos ou palavras.

Meu compromisso com o Recife é com a valorização dos artistas locais e com o respeito às manifestações mais autênticas do povo para que o Recife assuma sua vocação de capital da cultura. *Presidente estadual do DEM e pré-candidato à Prefeitura do Recife, escreve para o Blog às quintas, dentro da série “Recife 2008.

Debate com os prefeituráveis”.