Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, Sempre acreditei e torci para que o Brasil pudesse viver um bom momento na sua economia, sem que isso excluísse o exercício virtuoso da política.
No início da década de 1970, o País vivia o chamado “milagre econômico”, mas sofria na pele o período mais obscuro da repressão política.
A redemocratização chegou na década de 1980, com o resgate das liberdades individuais e o respeito aos direitos do cidadão, mas a economia patinava na hiperinflação.
Essa falta de sintonia entre política e economia fez com que durante algum tempo especialistas chegassem a duvidar de que o nosso País pudesse conjugar essas duas agendas civilizatórias.
Com o Plano Real, o Brasil deu sinais de que poderia fazer isso, provando que a estabilidade econômica é sim compatível com a estabilidade política; demonstrando que a competência no exercício do Poder Político pode incluir o Desenvolvimento Econômico.
Em síntese: o Brasil caminharia – a passos largos – para se tornar uma democracia do mundo desenvolvido.
Infelizmente, Senhor Presidente, não é isso que podemos vivenciar nos últimos anos.
A verdade é que o País acumula resultados positivos na chamada macroeconomia, mas na política a marca principal tem sido a da mediocridade.
Nos dicionários da língua portuguesa, está escrito que medíocre é aquilo que está abaixo da média, no que toca a qualidade, originalidade; algo que é inexpressivo, ordinário, sem expressão ou originalidade; mediano, pobre, banal, passável.
Não é de surpreender que a política, em especial no Parlamento, passe por uma fase de tão baixo respaldo da opinião pública, pois os valores que deveriam nortear a prática política estão completamente desvirtuados.
Mente-se da forma mais descarada, sem qualquer sinal de timidez ou de vergonha.
O cinismo e a desfaçatez estão se transformando em virtudes anunciadas.
Manipula-se escancaradamente a verdade olhando nos olhos do manipulado.
Tamanho desvio não pode resultar em coisa boa.
A mediocridade campeia.
O fato é desfavorável ao poderoso de plantão?
Muda-se o fato.
Agressores se transformam em agredidos.
Vítimas em criminosos.
Assina-se embaixo da máxima nazista de que uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade.
Não há respeito pela História; não há respeito pelo que veio antes; não há respeito pelo que herdamos de bom dos nossos antecessores. É o que existe de mais velho e retrógado, travestido de novidade. É a preferência pelo jogo do mais esperto; no qual a trapaça é a única forma de vencer.
Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, tenho o maior respeito pela história de vida do Presidente da República.
De identidade com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não guardo apenas o fato de termos nascido em terras de Pernambuco.
Vai além disso.
Na década de 1970, estávamos – eu no MDB, ele no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo – lutando para que o Brasil voltasse a ser uma democracia.
Sua atuação na hoje histórica greve dos metalúrgicos do ABC paulista terminou levando-o à prisão.
Fui um dos primeiros integrantes da oposição a visitar Lula, após ele ser libertado, em 1980.
Nove anos depois, no segundo turno da eleição presidencial, voltamos a nos encontrar e apoiei sua candidatura.
No entanto, em 2002, quando Lula finalmente venceu a disputa presidencial, eu estava no palanque oposto, do então Ex-Ministro José Serra.
Como Governador do Estado de Pernambuco, em segundo mandato, entre 2003 e 2006, mantive uma relação de respeito recíproco com o Presidente da República.
Quer seja no Recife ou aqui mesmo em Brasília, construímos um diálogo produtivo, que colocava os interesses do nosso Estado e do País acima das divergências partidárias.
Mas já no primeiro mandato, o Governo Lula dava sinais de que não saberia valorizar as duas agendas, a política e a econômica.
Enquanto manteve corretamente os pressupostos macroeconômicos traçadas nos Governos Itamar Franco e Fernando Henrique, o Governo petista se perdeu na hora de negociar a montagem da sua base de apoio no Congresso Nacional.
Esse “atalho” para obter a maioria parlamentar foi o caminho mais curto para o escândalo do “mensalão”, no qual o apoio parlamentar foi comprado como um pacote de manteiga no supermercado.
Mesmo não tendo votado em Lula e no PT, tinha a expectativa de que as coisas pudessem avançar; que a prática política entrasse numa nova fase.
Que a nossa agenda democrática não sofresse solução de continuidade.
O que vimos, Senhor Presidente, foi o pior da política minúscula, da troca de apoio por recursos do Orçamento, por diretorias de empresas estatais.
O que vimos foi o aparelhamento da máquina federal e a cooptação notória de entidades da chamada “sociedade civil”.
Os sindicatos, as organizações não-governamentais, por exemplo, que deveriam ser a vanguarda da sociedade, foram transformados em meros instrumentos da manutenção do statu quo.
Tudo muito bem azeitado pelo repasse de recursos públicos dos “companheiros” encastelados na máquina pública.
A manipulação se transformou em regra de comportamento.
Será que é mera coincidência que setores do PT voltem a defender um terceiro mandato para o Presidente da República, num momento no qual a imagem da atividade parlamentar está abaixo do nível do mar, quase sem forças para reagir?
Será que é mera coincidência que um grande empresário venha de público afirmar que um terceiro mandato representa a vontade da maioria?
Será que é mera coincidência o Presidente da República barrar a fiscalização da aplicação dos recursos repassados aos sindicatos?
Será que é mera coincidência que um ministro considere normal a montagem de dossiês contra adversários políticos?
Será que é mera coincidência que o sigilo bancário de um simples caseiro, que o sigilo de dados de um Ex-Presidente da República e de sua esposa e que o sigilo do descobrimento de um novo campo de petróleo venham à tona como se isso fosse normal?
A mediocridade campeia.
Nada é coincidência. É tudo fruto do mesmo caldo medíocre, da cultura do aparelhamento escancarado do Poder Federal.
A lista de desvios ou desvarios é imensa.
Precisaria de um dia inteiro para relacioná-los.
Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, Por todo esse cenário preocupante, cresce em responsabilidade o papel das forças de oposição.
A pauta dessa agenda continuísta já está posta, quer seja por meio de uma oportunista e esdrúxula re-reeleição, quer seja por meio de um candidato – poste ou não – a ser “ungido” pelo Presidente da República.
Cabe à oposição deixar claro que democracia e personalismo não combinam.
Nunca combinaram.
Aí está a História da Humanidade repleta de exemplos de que o messianismo provoca efeitos devastadores sobre o desenvolvimento coletivo de uma sociedade.
Permitam-me transcrever trecho de um escrito do italiano Norberto Bobbio: *“A soberania popular não pode se basear na mera autoridade do número: a maioria é tão arbitrária quanto o arbítrio individual.
A soberania não pode ser senão a soberania do direito, de uma ordem jurídica racionalmente organizada, mediando entre liberdade e organização, entre espontaneidade social e poder”.* Para tanto, a oposição, na minha modesta opinião, precisa se organizar.
Como disse certa vez o cantor e compositor pernambucano Chico Science, “eu me organizando, posso desorganizar”.
Não há outro caminho para enfrentar essa máquina que aí está.
Em 2005 e 2006, a oposição cometeu, de forma reincidente, o erro fatal, de subestimar as forças que hoje se encontram unidas no Poder Federal.
Se não conversarmos, se não dividirmos missões e responsabilidades, vamos condenar o País a manter essa mesmice que aí está.
Em tempos estranhos como os de hoje, quando as pessoas se digladiam para comprar cuecas usadas de um traficante de drogas, a mediocridade precisa ser combatida diuturnamente, como se fosse uma doença contagiosa.
Precisamos combater o que este Governo tem de pernicioso, seus desvios, seus abusos; precisamos enfrentá-lo com altivez e firmeza quando são agredidas outras instituições da República, o que virou rotina nos últimos meses.
Esse bom combate por parte da oposição é essencial para que o País não seja contaminado por essa praga da mediocridade.
Não devemos permitir que o comportamento da sociedade brasileira, em especial das novas gerações, seja pautado por esses exemplos nocivos.
Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.
Muito obrigado". “Senhor Presidente,