Educando o Recife?
Por André Regis* A viabilidade do nosso futuro estará sempre condicionada à educação da população.
Sempre foi assim.
Povo educado prospera.
Hoje tal relação é ainda mais forte.
As diferenças entre os povos se dão a partir da capacidade de acumulação de conhecimento.
Lamentavelmente, ainda não acordamos para este fato.
Na questão educacional, o Brasil está praticamente parado.
Como estamos em pleno processo eleitoral voltado para a escolha do nosso futuro prefeito, devemos trazer esta questão para o plano municipal.
A rede de ensino municipal do Recife está entre as piores do Brasil.
Os vexatórios resultados das nossas crianças nos exames nacionais realizados pelo Ministério da Educação atestam que temos um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento de Educação Básica do Nordeste.
Em 2007, no IDEB, o Recife ficou em último lugar entre as capitais do país.
Para que tenhamos idéia do descaso com a educação, em 2003, de acordo com auditoria do Tribunal de Contas do Estado, a Prefeitura da Cidade do Recife investiu em educação menos do que os 25% determinados pela Constituição Federal.
Para mostrar a gravidade do problema, deve-se registrar que o desrespeito a este dispositivo constitui uma das hipóteses de intervenção do estado no município.
Vale lembrar reportagem do Jornal Nacional da Rede Globo que denunciou, em agosto de 2007, o funcionamento de escola municipal dentro das dependências de um bar dançante no bairro de Casa Amarela, o Penedo Clube.
Revelando algo que deveria ter sido tratado como escândalo, pois é simbólico por tudo que representa em termos de falta de compromisso com a educação.
Enquanto isso a Prefeitura tem feito gastos exorbitantes com carnaval; com shows (como o de Sandy e Júnior por 480 mil Reais); com viagens internacionais para o prefeito e sua extensa comitiva; com caríssimas decorações de fim de ano; com propagandas vazias na televisão (como uma, ao custo de um milhão de Reais, em que Alceu Valença canta uma música para um parque que ainda não existe) e com questionáveis consultorias administrativas, como as executadas pela Finatec.
Pelo visto, não há falta de recursos para a prefeitura.
Pelo contrário, há esbanjamento de recursos públicos.
Quando entramos no plano do absolutamente supérfluo é porque já realizamos o básico, ou porque gastamos mal.
Quantas bolsas de iniciação científica, mestrado ou doutorado poderiam ser concedidas aos professores da rede municipal com os três milhões dados à Mangueira?
Quantos cursos de capacitação poderiam se viabilizar com a propaganda do parque dona Lindu?
Quantos microcomputadores poderiam ser comprados para as escolas da rede municipal com o dinheiro torrado no show de Sandy e Júnior?
Por outro lado, o mais grave de toda a situação é o fato da população, mais diretamente atingida pela falta de qualidade das escolas, não pressionar por um sistema educacional de melhor qualidade, principalmente, por não saber que a educação é o único verdadeiro meio de transformação social.
Os dados oficiais revelam a dimensão maior do problema: as mães, de baixa renda, não mandam suas crianças para as escolas para que elas possam aprender, mas para passar o tempo e para se alimentarem.
O fato é que somente quem passou pela experiência pessoal de ter se transformado pela educação é capaz de entender seu papel revolucionário.
Por fim, as conseqüências deste absurdo déficit educacional são e serão enormes.
A vocação econômica do Recife demanda uma mão de obra qualificada para enfrentar as exigências do setor de serviços e os desafios advindos da globalização.
Isso sem falar na necessidade que temos em reanimar culturalmente o Recife.
Para irmos além da cultura popular espontânea, é preciso investimento na formação cultural das nossas crianças.
Nas escolas públicas do Recife também deve haver espaço para o erudito, como Mozart, Villa-Lobos, Machado de Assis, Monet entre outros grandes nomes das artes.
Os meios tecnológicos já permitem. * André Regis é Ph.D. em Ciência Política pela New School For Social Research de Nova York, Doutor em Direito pela UFPE, Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.