Por Ângelo Castelo Branco As eleições para prefeito do Recife assemelham-se, até agora, a um concurso de miss.

O que aparece são rostos e discursos comuns, sem criatividade, com propostas chavões do tipo emprego e renda, orçamento participativo (já falaram até de barracão, ressuscitando um símbolo da opressão senhorial da zona açucareira), entre outros que nivelam os candidatos a uma mesmice insuportável.

Temos déficits de “iluminados”, capazes de romper o elo do Recife com a decadência.

Este sim, um problema grave que vem devastando a capital desde muitas décadas.

O nosso centro tradicional simboliza muito bem esse fenômeno.

A favelização avança célere sobre os espaços que deveriam funcionar como passeios públicos.

Olhando para o alto, notam-se edifícios apodrecidos, alguns inacabados e outros com estruturas enegrecidas, que destruíram a outrora paisagem “cartão postal” do Recife.

Quem desce a ponte Princesa Izabel e aprecia o antigo centro, recolhe uma má impressão da sua estrutura urbana.

A decadência avança soberbamente sobre a cidade, ceifando-lhe belezas que pareciam eternas nos poemas de Manuel Bandeira sobre a sua rua da União e o rio Capibaribe.

E ninguém fala em implodir o que não presta e incentivar a restauração do que pode servir.

Mas como uma desgraça nunca vem sozinha, o Recife assiste, igualmente estarrecido, a uma degradação de seus patrimônios imateriais.

Cidadãos estão sendo violentados até por vendedores de piratarias que desfilam em bairros outrora sossegados, com som nas alturas, vendendo CDs e DVDs.

Automóveis com caixas potentes não respeitam nem hospitais nem ninguém. É o Recife na onda das novas tecnologias do som.

A lei do silêncio é estropiada a cada esquina e em cada condomínio e nenhum candidato a prefeito toca, sequer de leve, no assunto.

Entretanto, o item “qualidade de vida” é valor imaterial que pesa mais numa eleição do que mil promessas de se construir obras de cimento.

Quem sabe se o recifense desejaria simplesmente ter sua cidade limpa, com ruas e calçadas bem cuidadas, com seu centro organizado, bairros arborizados, devidamente patrulhada para inibir agressões às pessoas e ao seu patrimônio público, sem crianças abandonadas nas ruas, sem transgressões aos bons costumes, com transporte público eficiente, saneada e bem servida de água potável tratada.

O sentimento de alívio numa cidade que goza o privilégio dessas conquistas, é algo muito mais importante do que as baboseiras que nos acostumamos a ouvir nas campanhas eleitorais.

PS: Jornalista