Ele disse que tinha parado de ler o blog dela, mas que sua família às vezes ainda o lia e ficava incomodada. “Eu nunca tentei impedi-la, mas eu certamente tive que me adaptar com a perda da minha privacidade”, ele disse. É impossível dizer quantas pessoas estão escrevendo em seus blogs sobre divórcio, mas o número de blogs pessoais quadruplicou em cinco anos, segundo o Pew.
Mary Madden, uma pesquisadora sênior do Projeto Pew que é especializada em relacionamentos online, disse que durante momentos emocionalmente carregados, algumas pessoas recorrem à Internet. “É um página em branco para descarregar todas as frustrações e emoções de uma pessoa em crise”, disse Madden.
Certamente há conseqüências mais à frente de todo esse compartilhamento. “O impacto a longo prazo da informação persistente online ainda não foi plenamente sentido”, disse Madden. “As pessoas tendem a achar que estão postando para um pequeno grupo de amigos ou que são anônimas”, ela disse.
Mas este não é realmente o caso, segundo ela, porque “basta que um amigo poste um link para seu blog para expor você”.
Laurie, uma mãe de Manhattan, deu início a podcasts no DivorcingDaze.com durante seu divórcio em 2006.
Toda semana Laurie e uma amiga divorciada tomavam uma taça de vinho e gravavam suas discussões sobre os assuntos do dia -spas, seus namorados, Eliot Spitzer- e então postavam na Internet.
Laurie nunca disse ao ex-marido que estava fazendo os programas porque visavam ser uma terapia e não uma vingança, ela disse.
Ela não usa seu sobrenome e nem o do ex-marido em suas conversas e pediu para que ambos os nomes não fossem divulgados neste artigo.
Ainda assim, Laurie não finge imparcialidade.
Os 10 mil ouvintes mensais que baixam os episódios do DivorcingDaze ouviram Laurie dizer que descobriu que seu ex-marido estava tendo um caso com sua chefe por meio de um e-mail no BlackBerry dele, e que seu ex-marido disse para a filha mais velha do casal que não estava traindo, porque o casamento deles, no entender dele, já tinha acabado. “Eu estou 100% ciente de que se ele contasse sua versão do casamento, seria completamente diferente”, disse Laurie.
Tão diferente de fato, que quando seu marido descobriu sobre os podcasts no ano passado, ele a processou.
Ele argumentou que eles incluíam declarações que eram tão “detestáveis, depreciativas e ofensivas” que violavam os termos do acordo de divórcio, que a impedem de “perturbar” ou “maldizer”.
Mas em uma decisão há poucas semanas, um juiz da Suprema Corte do Estado de Nova York disse que as queixas não serviam de base para bloquear o podcast.
Apesar das declarações de Laurie poderem ser “irrefletidas e não promoverem a criação compartilhada dos filhos”, escreveu o tribunal, elas estavam cobertas pela Primeira Emenda.
Obviamente, os advogados de divórcio estão prestando atenção.
Deborah Lans, da Cohen Lans, um escritório de advocacia de Manhattan com ampla experiência em casos matrimoniais, disse: “A última coisa que você quer ver é pessoas enfurecidas fazendo declarações descontroladas”.
Lans disse que seus acordos de divórcio incluem uma cláusula de confidencialidade que proíbe qualquer parte de publicar até mesmo relatos ficcionais do casamento, mas nem todo advogado insiste nisso.
O juiz do caso de Laurie notou explicitamente que o acordo deles não possuía uma cláusula dessas.
Neste ano, um tribunal em Vermont disse a William Krasnansky para remover seu relato pouco velado de seu divórcio, no qual ele descreveu sua ex-esposa como mentalmente desequilibrada e a culpava por tê-lo forçado a vender a casa deles com um “prejuízo devastador”.
A ex-esposa de Krasnansky se queixou de que era “difamatório”.
Mas semanas depois, após uma tempestade de críticas, o tribunal reverteu sua decisão e lhe deu o direito de continuar publicando.
Para alguns ex-cônjuges amargos, o prazer da vingança não é a única recompensa.
Escrever sobre o divórcio pode ser um bom negócio. “Os blogueiros que estão se saindo melhor são aqueles que estão adicionando suas vidas pessoais”, disse Penelope Trunk, autora do blog Brazen Careerist, que escreveu freqüentemente no ano passado sobre o colapso de seu casamento de 15 anos.
Trunk escreveu sobre ir ao que considerava ser sua primeira sessão de terapia para casais apenas para descobrir que se tratava do escritório de um advogado de divórcio.
Esta foi uma de suas postagens mais populares.
Mais dolorosamente, ela escreveu sobre os problemas de um filho que sofre com síndrome de Asperger e disse que tanto ela quanto seu marido acreditam que os desafios de criá-lo contribuíram para o divórcio.
Mas este tipo de honestidade brutal não é uma boa idéia para as crianças, especialmente dado que a maioria já nutre sentimentos de culpa sobre o divórcio de seus pais, disse a dra.
Irene Goldenberg, uma professora emérita de psiquiatria da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. “Não é bom para as crianças receber informação pessoal desta forma”, disse Goldenberg. “E as pessoas precisam considerar fazer coisas com a cabeça quente.
A forma como se sentem agora não será como se sentirão daqui dois anos, mas aí não haverá como voltar atrás.” Truck discorda. “É uma questão de geração”, ela disse. “Nós achamos que será grande coisa, mas não será para eles.
Quando tiverem idade suficiente para lê-los, eles já terão passado toda sua vida online.
Será tipo, \Sim, eu já esperava por isso.”