O Comitê de Política Monetária do Banco Central –Copom, aumentou nesta quarta feira em 0,5 (meio ponto) a Taxa Selic - que regula a taxa básica de juros – alterando-a de 11,25 para 11,75 pontos percentuais.

Após o anúncio explodem na mídia as repetidas análises dos segmentos da indústria e dos trabalhadores.

As declarações óbvias de que o crescimento será prejudicado e que foi uma decisão conservadora nos faz lembrar Eça e Queiroz e seu conselheiro Acácio.

Infelizmente, apesar de tudo o que dizem, não há nada de novo debaixo do sol.

Principalmente, porque a história das decisões do Copom mostra muito mais acertos do que erros.

Nesse sentido, a Confederação Nacional da Indústria, como sempre, faz seu jogo político e encena o manjado choro de protesto.

Em uníssono, os seus líderes fazem caras e bocas no modelado discurso em defesa da produção e do crescimento econômico.

Isso é uma coisa tão previsível que se as declarações não fossem datadas, faria qualquer um acreditar que tais cenas seriam as mesmas divulgadas todas as vezes que isso acontece.

Paradoxalmente, as lideranças do PT também fazem declarações para inglês ver, criticando as lúcidas decisões do Banco Central.

Todavia, para a surpresa geral, a oposição que estava meio sem rumo e perdida no tiroteio da CPI dos cartões corporativos posicionou-se com coerência e lucidez.

Mesmo votando no Senado, favoravelmente, a extinção do fator previdenciário - criado no Governo FHC para minimizar o déficit da previdência, fez o coro inverso: aprovou a decisão do Banco Central e defendeu abertamente o seu presidente Henrique Meireles.

Diante das declarações dos líderes do PSD e do DEM - senadores Arthur Virgílio e José Agripino - ainda ficam dúvidas sobre a transparência das razões políticas que os levaram a se posicionar desta forma, alinhando-se à Federação Brasileira dos Bancos - Febraban.

Para esses líderes partidários, a decisão do aumento dos juros foi tecnicamente correta e politicamente acertada.

Um rasgo de coerência.

Na análise dos últimos números da inflação mensal, foi identificado que estava havendo um recrudescimento no seu crescimento, resultante dos aumentos do consumo das famílias e dos preços dos alimentos.

Nesse aspecto, não faz mal recordar que, segundo especialistas, uma das causas da bolha imobiliária e das condições de pré-recessão da economia americana foi o patamar de juros excessivamente baixos por elevado período de tempo.

As más línguas do mercado acreditam até, que Alan Greenspan tenha deixado uma bomba de efeito retardado.

Diante disso, por analogia ao caso americano, não seria de todo surpresa que, no caso brasileiro, o aumento excessivo do consumo das famílias, particularmente, o explosivo crescimento de consumo da classe “C” estaria empurrando a inflação para cima.

Assim, preventiva e conservadoramente, o Copom com esta medida, estaria tentando através de um choque no controle monetário, estancar os excessos desse consumo e eliminar quaisquer vestígios de recrudescimento inflacionário.

Assim, conservadora ou não, acredita-se que, com relação a essa decisão, o governo Lula, de bravata em bravata, mais um vez deve dar a volta por cima uma vez que em breve será provado que, apesar de estarem em times diferentes, técnica e politicamente, o Banco Central e a Oposição neste caso, estão certos e, alinhados.

PS: Carlos Alberto Fernandes é economista e professor da UFRPE.