Por Carlos Eduardo Cadoca Tem um amigo meu que está com um problema danado para resolver.
A mãe dele, uma senhora dos seus setenta e poucos anos, está querendo se mudar.
Quer, a todo custo, sair do Recife e ir morar em Curitiba, onde diz ter reencontrado a liberdade.
Ele já não sabe mais o que fazer para tirar essa idéia da cabeça dela.
E vai ser difícil mesmo.
O caso é o seguinte.
Ela tem problemas de locomoção e precisa andar de cadeira de rodas, mas em Curitiba, ao contrário do Recife, se sentiu muito bem porque não teve quase nenhuma dificuldade de se deslocar.
A cidade lhe oferece boas condições de circular pelas ruas, de fazer compras, de olhar vitrines, de ir de um canto a outro com conforto.
Daí essa sensação de liberdade.
O Recife, de fato, está levando uma desvantagem enorme nesse embate.
A cidade enfrenta um problema grave de mobilidade.
Já falamos sobre as dificuldades do trânsito, do transporte público, da inexistência de uma obra viária estruturadora para evitar que a cidade pare.Hoje vamos focar nessa questão das calçadas.
O Recife tornou-se mesmo uma cidade muito difícil para o pedestre.
Pior ainda para pessoas como a mãe desse meu amigo, para portadores de necessidades especiais, para quem tem dificuldades de locomoção.
Sair de uma esquina para outra, de uma rua para outra é uma dificuldade.
Percorrer cem, duzentos metros que seja é tão complicado que parece que você está em uma verdadeira corrida de obstáculos.
As calçadas, quando existem, são péssimas, desniveladas e repletas de buracos.
As árvores não recebem os devidos cuidados e, para piorar, os pedestres têm que desviar de automóveis estacionados nos passeios ou dos vendedores ambulantes.
Uma desordem total.
Apesar de a responsabilidade sobre as calçadas, como se sabe, ser dos proprietários dos imóveis (casa, condomínio, empresas) o poder público sempre é chamado a resolver esse problema, que é mais grave do que se pensa.
O Recife anda muito a pé.
As pesquisas de transporte indicam que cerca de 25% das pessoas vão andando para o trabalho, escola, compras etc.
Se considerarmos só a ida para a escola, as pesquisas indicam que quase a metade dos estudantes vai a pé.
O estudo só reforça o que podemos observar no dia- a -dia.
Basta acordar cedo e olhar para as ruas. É enorme a quantidade de trabalhadores e estudantes circulando pra lá e para cá.
Na dificuldade de andar nas calçadas, muita gente se arrisca transitando nas vias reservadas para carros e ônibus, aumentando consideravelmente riscos de acidentes.
Como se vê, um problema puxa o outro.
Na volta pra casa, aí sim, é que fica difícil mesmo.
Para piorar, as ruas são escuras e inseguras.
Uma situação nada fácil para o pedestre.
A lei municipal 16.890, sancionada em 2004, definindo normas de construção, manutenção e recuperação das calçadas, ao que tudo indica, pertence ao vasto elenco de legislações com pouco ou quase nenhum impacto.
Até porque divide opiniões.
Tem gente que gostou, mas muito mais gente discorda.
Acha que já paga imposto demais e que calçada deve ser mesmo um problema da prefeitura.
Resultado: forma-se um impasse e fica tudo como está.
Muito ruim.
Não adianta existir lei se não há uma fiscalização rigorosa nem mecanismos que estimulem o cidadão a cuidar melhor das suas calçadas.
Para começar, o poder público tem que dar o exemplo.
Tem que fazer a sua parte e facilitar a acessibilidade das pessoas no que lhe diz respeito, ou seja, em calçadas de prédios públicos, em praças, parques, nos demais espaços públicos de uma forma geral.
Estamos estudando medidas importantes para dar ao cidadão condições de acessibilidade adequadas.
Já sabemos que vamos começar pelo centro da cidade, pois é lá onde se encontram mais pedestres.
Alguma medida enérgica tem que ser tomada e efetivamente colocada em prática.
Do jeito que está só vai restar àquele meu amigo se render aos apelos da mãe, fazer as malas e seguir para Curitiba.
Ah!
Ia esquecendo.
Onde foram parar mesmo as pedras portuguesas que foram retiradas do calçadão de Boa Viagem?