Por Isaltino Nascimento Poucos são os que enxergam os índios como nossos contemporâneos.

O mais comum é que eles sejam vistos por duas óticas: uma preconceituosa e outra idealizada.

A primeira visão “justifica” as ações daqueles interessados em suas terras e recursos ambientais, como madeira e minério.

A segunda os percebe como seres distantes ou apenas como parte do nosso passado.

Estas duas formas de vê-los nos afasta de uma realidade concreta.

As populações indígenas vivem no mesmo país que habitamos, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes nas áreas de saúde, educação, economia, meio ambiente, segurança pública, entre outras.

E a sociedade teima em não enxerga-los, assim como ainda são mínimas as políticas públicas voltadas para eles.

Como conseqüência do tratamento preconceituoso, temos notícias de agressões, violência e descaso contra os povos indígenas.

Principalmente partindo daqueles que convivem diretamente com eles no meio rural e que, na maioria das vezes, pertencem a elites municipais que disputam suas terras.

E nestes casos, é corrente o uso de estereótipos para achaca-los e desqualifica-los, sejam chamando-os de “ladrões”, “traiçoeiros”, “preguiçosos” e “beberrões”.

Uma forma de referendar as investidas contra os índios e a invasão de seus territórios.

Enquanto nas cidades, apesar de ser difundida uma imagem favorável dos índios, eles são vistos como algo muito remoto. É senso comum serem encarados como os donos da terra, os primeiros habitantes, os que sabem conviver com a natureza sem depredá-la, mas de uma forma distante do nosso cotidiano.

Também são classificados como parte da nossa história, em processo de desaparecimento, quando na verdade dados demográficos recentes demonstram que as populações indígenas vêm crescendo no Brasil nas últimas décadas.

Milito há anos na defesa dos direitos dos povos indígenas e vejo o 19 de abril como uma oportunidade de mostrar que podemos conviver pacificamente com qualquer grupo social humano.

O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística, estando entre as maiores do mundo.

São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas.

São 180 línguas, pelo menos, faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem a mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.

O que deve ser visto como uma riqueza cultural e não como uma sociedade que há de se repelir, pilhar ou mistificar.

Os índios são parte do nosso país e têm o dever de lutar pelos seus direitos e de serem alvos de políticas públicas voltadas ao seu bem-estar, como qualquer outro segmento social.

Não custa acrescentar que devemos reconhecer e valorizar a identidade étnica das sociedades indígenas, sua cultura e forma tradicional de organização social.

O que nada mais é que praticar o respeito ao outro.

PS: Isaltino Nascimento, deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.