Por Gilvan Oliveira, na editoria de Política O episódio remonta aos tempos do Brasil colônia.
Santo Antônio foi nomeado vereador de Igarassu em 1754 pelo rei de Portugal d.
José I.
O salário, 27 mil réis, serviria para manter a Ordem Franciscana na vila de Igarassu.
Em troca, os religiosos alfabetizariam, ensinariam latim e cuidariam da saúde dos moradores.
Os franciscanos enfrentavam dificuldades.
Tinham perdido o privilégio de receber as esmolas para a recém-chegada congregação do Sagrado Coração de Jesus, que cuidava de mulheres pobres e ex-prostitutas. “Os vereadores mandaram uma carta ao rei pedindo ajuda para manter os franciscanos.
Como Estado e Igreja eram unidos, era comum o rei nomear um santo militar de alta patente e seu soldo sustentar ordens religiosas.
Mas Igarassu não tinha quartel.
A saída do rei foi nomear Santo Antônio vereador para custear a Ordem Franciscana”, explicou o historiador Jorge Paes Barreto, 50 anos, diretor do Museu de Igarassu.
Ele guarda uma cópia da carta régia de nomeação do santo.
A original está na Torre do Tombo, em Lisboa, onde estão arquivados os documentos do monarquia portuguesa.
De 1754 até hoje, o santo vereador deixou de receber salário por 62 anos, entre 1889, com a Proclamação da República, e 1951.
Naquele ano, um projeto da Câmara retomou a prática colonial para ajudar as obras do Convento de Santo Antônio. “Existiram projetos para acabar com a prática, mas nunca foram adiante.
Isso virou tradição na cidade”, diz o vereador Willans Moraes.
No covento, o salário do santo ajuda a manter creche e escola para cerca de 200 crianças carentes.
A freira Zélia Maria de Souza, 70 anos, uma das coordenadoras do trabalho social, se disse surpresa com a repercussão do caso, mesmo o dinheiro já tendo sido repassado há tanto tempo. “Não esperava pela repercussão.
E não vejo problema se (o dinheiro) foi aprovado pelos vereadores”, disse.
O salário do santo não é a principal fonte de custeio da creche e da escola.
Segundo a religiosa, o convento recebe ajuda de convênios com a Prefeitura e de um programa de apadrinhamento internacional, onde casais da Alemanha custeiam a educação de determinada criança.