Do Blog de Josias Conforme já noticiado aqui, Lula acha que sua vida vem sendo facilitada pela “falta de rumo” dos adversários.

O presidente não está só em sua avaliação.

A opinião é compartilhada por PSDB e DEM, as duas maiores legendas da oposição. À procura de um norte, tucanos e ‘demos’ realizam no final da tarde de segunda-feira (14), em São Paulo, uma reunião de cúpula.

Será comandada pelos presidentes de honra dos partidos: Fernando Henrique Cardoso e Jorge Bornhausen.

Além da dupla, haverá mais seis participantes.

Do lado do PSDB: Sérgio Guerra, presidente do partido, e os líderes Arthur Virgílio (Senado) e José Aníbal (Câmara).

Pelo DEM: o presidente Rodrigo Maia e os líderes José Agripino Maia (Senado) e ACM Neto (Câmara).

Olhando para o retrovisor, os opositores de Lula vão inventariar os próprios erros e tentar projetar planos para o futuro. “Vamos refinar a estratégia”, disse um tucano ao repórter. “Está claro que a renitência em obstruir e esbravejar está passando para a sociedade um sentimento de inutilidade da oposição”, ecoou um ‘demo’.

Numa palavra, a oposição vai tentar sair do córner.

No plano nacional, busca-se uma estratégia para se contrapor à fúria inauguratória de Lula.

Parte-se da avaliação de que o presidente antecipou a corrida sucessória ao converter eventos pseudo-administrativos em pa©lanques.

Na esfera municipal, tenta-se fixar um modus vivendi que facilite a convivência nas praças em que a oposição está dividida.

O exemplo mais eloqüente é o da cidade de São Paulo.

Quem melhor resume a encrenca é Arthur Virgílio.

Diz que, divididos, Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) candidatam-se ao papel de cavalheiros à antiga: “Vão acabar facilitando a eleição de uma dama”, afirma, referindo-se à petista Marta Suplicy.

No cenário legislativo, é Agripino Maia quem produz a melhor sinopse do drama vivenciado pela oposição: “A estratégia centrada só em CPI e em obstrução tornou-se viciada”, diz ele. “CPI também.

Obstrução quando for conveniente.

Mas precisamos tratar de outros assuntos.” Neste ponto, há, de novo, uma coincidência com a avaliação que Lula faz em privado.

O presidente dá de ombros para temas como obstrução, CPIs e o dossiê com gastos da era FHC. “O povo não quer saber de nada disso”, disse Lula a um ministro. “As pessoas querem saber do crescimento da economia, das oportunidades de trabalho e do aumento do salário.” Antes mesmo do entendimento que planeja costurar em São Paulo, a oposição protagonizou, na noite da última quarta-feira (9), uma súbita mudança de planos.

Cavalgando projetos de autoria de dois expoentes do petismo –Tião Viana (PT-AC) e Paulo Paim (PT-RS)-, PSDB e DEM despejaram votos no aumento das verbas da Saúde e na extensão dos reajustes do salário mínimo às aposentadorias e pensões do INSS.

A coisa foi decidida em almoço da bancada do DEM e ganhou a adesão dos tucanos.

Surpreendida, a bancada governista foi no vai da valsa.

E o governo vê-se agora às voltas com a necessidade de alterar, na Câmara, as propostas dos aliados petistas.

O projeto de Tião Viana regulamenta a chamada emenda 29.

Se for ratificado pelos deputados, sem alterações, obrigará o governo a adicionar ao orçamento da Saúde, já em 2008, a bagatela de R$ 7,5 bilhões.

Dinheiro que a Fazenda diz não estar disponível.

Quanto à proposta de Paulo Paim, estima-se que, se for referendada pelos deputados, aumentará os gastos da Previdência em algo como R$ 3,5 bilhões ao ano.

Uma despesa que o governo alega ser incompatível com o caixa previdenciário, às voltas com uma perspectiva de déficit de cerca de R$ 40 bilhões em 2008.

Nesta quinta-feira (10), o líder ‘demo’ ACM Neto apressou-se em informar que, na semana que vem, a oposição vai levantar a obstrução que vem patrocinando na Câmara, para facilitar a apreciação das duas propostas que vêm do Senado. À bancada governista restará a constrangedora atribuição de se contrapor a iniciativas tão populares como o aumento da verba da Saúde e o acréscimo das aposentadorias.

Um papel que, no passado, era reservado ao PT, opositor intransigente da gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso.