Por Edilson Silva Domingo, dia 6 de abril de 2008.

Manhã de sol no Recife.

Na comunidade de Coqueiral, periferia da zona Oeste da cidade, mais especificamente na Rua Coripós, nº 35, mais um núcleo do PSOL está sendo inaugurado.

Um panelão de feijoada e um potente sistema de som estão à disposição dos presentes.

A iniciativa de inaugurar a sede foi do GASS – Grupo de Ação Social Solidária, coletivo integrado por moradores da comunidade de Coqueiral, e que agrega também moradores das comunidades do Totó, Areias e Capua.

Como ferroviário que fui por quase 15 anos, trabalhando vários deles na manutenção de locomotivas na oficina Edgar Werneck, em Areias, senti-me à vontade, pois a comunidade é formada por muitos ferroviários aposentados.

O evento serviu também para lançar a pré-candidatura a vereador do escritor e cordelista Joel Marques, mais conhecido como Escorpião, indicado pelo GASS para a missão.

Como vem acontecendo em outras comunidades, o PSOL fez da atividade mais um momento de vivência dos problemas enfrentados pelos moradores.

Mais uma vez ouvimos duras críticas ao Orçamento Participativo da Prefeitura do Recife.

A principal delas recai sobre a não constituição de um posto do PSF (Saúde da Família) na comunidade.

Esta reivindicação foi definida como principal prioridade no OP já em 2003, há cinco anos, no entanto, até hoje, a prefeitura se nega a atendê-la.

Justificativa: não tem dinheiro para alugar um imóvel no local.

A comunidade também reclama que desde a última cheia do Rio Tejipió, em 2006, os desabrigados da comunidade estão submetidos ao auxílio-moradia, e não tiveram de volta o direito às suas casas próprias.

Chega a ser quase inacreditável, mas a comunidade denuncia também que desde que assumiu a prefeitura, em 2001, a gestão petista não fez intervenção alguma no Rio Tejipió.

Será que é falta de dinheiro também?

Os moradores não acreditam que é falta de dinheiro.

No sistema de som instalado, lideranças comunitárias locais indagavam e denunciavam os recursos gastos com a Mangueira no carnaval carioca, no passeio da orla de Boa Viagem, no Parque Dona Lindu, dentre outros.

Ninguém consegue compreender e aceitar a forma estranha como a gestão do PT “cuida das pessoas”.

O compromisso de uma administração verdadeiramente popular é dar conta destas pequenas demandas também, que não são caras, são baratas, e fazem muita diferença no cotidiano da nossa população.

Em tempo 1 – A comunidade do Ibura de Baixo continua sem solução para o problema das 180 crianças que estavam sem aula desde o início do ano letivo 2008, pelo fato da Prefeitura não ter construído o anexo definido como prioridade no OP desde 2003.

Cerca de 140 crianças, de 2º a 4º séries, foram colocadas para estudar no “horário da fome”, das 11h30 as 14h30.

As demais, da alfabetização e 1º série, continuam fora da escola, sem estudar.

A prefeitura diz não ter dinheiro sequer para alugar um anexo na comunidade.

Em tempo 2 – Até a tarde de ontem, 10/04, a prefeitura do Recife ainda não havia honrado o pagamento aos artistas locais que fizeram do Recife o melhor carnaval do mundo em 2008.

Segundo informações vindas dos próprios artistas e grupos culturais, Maracatus, Afoxés e outros estão até agora sem receber pelo trabalho realizado há dois meses.

Como não podem reclamar, para não sofrerem retaliações, aguardam passivamente e impotentes uma solução.

Enquanto isso, compromissos com fornecedores e serviços vão se acumulando.

A prefeitura diz não ter ainda os recursos para cumprir sua parte no contrato.

Mas então quem levou os mais de R$ 30 milhões tão alardeados durante a festa de Momo?

Carnaval multicultural e descentralizado é ótimo, mas sem transparência e democracia é inaceitável. É lamentável, mas essa é a vida no Recife, como ela é.

PS: Silva é presidente do PSOL/PE e pré-candidato à prefeitura do Recife em 2008.

Ele escreve no Blog de Jamildo todas as sextas-feiras, dentro do projeto de debate com os prefeituráveis.