Por Antonio Brasil, no Comunique-se Se você ainda tinha alguma dúvida de que jornalista não deveria trabalhar para governo, qualquer governo, agora, não tem mais.
Se você ainda tinha alguma dúvida de que é “impossível” fazer jornalismo sério e independente em TV pública (sic) criada e patrocinada pelo governo, agora, não tem mais.
Estas são algumas das principais conclusões após a leitura do novo livro do ex-diretor da Radiobrás, o jornalista Eugenio Bucci, “Em Brasília, 19 horas” (ver aqui) e refletir sobre o noticiário dos últimos dias sobre a demissão de editor-chefe da TV Brasil, Luiz Lobo (ver aqui).
Eugenio Bucci e Luiz Lobo têm várias coisas em comum.
A mais relevante para nós jornalistas é que ambos tentaram fazer o impossível: jornalismo independente em estrutura de empresa estatal.
Ambos se decepcionaram, mas saíram do governo atirando ou pelo menos, ameaçando atirar contra o governo.
Mas aqui entre nós, eles não atiram muito!
Sabem que têm muito a perder.
Ambos são jornalistas experientes e tarimbados.
Percebem que não devem jamais revelar segredos ou “pegar pesado” contra os amigos dos amigos.
Podem comprometer o futuro.
Afinal, para os jornalistas que tentam fazer o “impossível”, as demissões criam transtornos e prejuízos, mas também podem garantir bons negócios.
Espaço na mídia ou publicação de livros com ameaças de revelações bombásticas.
Sair do governo e publicar livro, pelo jeito, já virou moda.
Não é dossiê Outro jornalista, o Ricardo Kotcho, ex-assessor de imprensa do presidente Lula ao sair do mesmo governo também publicou um livro.
Mas assim como Bucci, Kotscho preferiu não revelar nada.
Esses livros têm muito em comum: falam mais de experiências pessoais do que revelam os bastidores do poder.
Decepcionam aqueles que esperam novidades, bombásticas.
Bucci e Kotscho são jornalistas experientes e tarimbados.
São amigos dos amigos e sabem que o futuro ainda reserva outras missões impossíveis.
Importante dizer que o novo livro de Eugenio Bucci , “Em Brasília, 19 horas” não é o “dossiê” de ex-diretor da Radiobrás. É muito bem escrito, de fácil leitura, revela algumas pressões previsíveis do poder para influenciar o tal jornalismo “independente” do autor e termina sem dizer absolutamente nada de novo ou surpreendente. É, na verdade, uma seqüência muito bem exposta e planejada de auto-elogios confirmada por uma seleção criteriosa de alguns elogios sobre a sua própria gestão na Radiobrás.
Eugenio Bucci obviamente acredita e investe no futuro.
Afinal, ele descreve com inúmeros detalhes como foi difícil e inusitado tentar fazer jornalismo independente e apartidário em empresa estatal que até hoje ainda produz o pior programa de rádio do mundo, a famigerada Voz do Brasil.
O próximo livro A justificativa para tentar essa “missão impossível” fica por conta dos velhos ideais dos tempos de estudante e ou da longa militância política dentro do Partido dos Trabalhadores.
Dentre as suas missões na Radiobrás, Bucci faz questão de enfatizar que sempre tentou pelo menos flexionar os horários da Voz do Brasil.
Não conseguiu.
Pelo jeito, essa missão também não era possível.
No final do livro, Bucci elabora a sua iniciativa de unificar a Radiobrás com a TVE do Rio em uma nova empresa de comunicação pública de verdade.
Infelizmente, isso também não foi possível.
Após tantos escândalos, tentativas de interferências no jornalismo da Radiobrás, a queda do amigo Gushiken e a chegada do companheiro jornalista Franklin Martins impediram a implantação de uma rede pública de TV de verdade no Brasil.
Uma rede pública que não demitisse editores que se recusam a fazer jornalismo chapa-branca ou que cheguem atrasado para o trabalho.
Tanto faz.
Esse modelo de empresa pública de comunicação obviamente não é o modelo que o Bucci sonhou.
Ou seja, atacado por diversos setores do governo, o ex-diretor da Radiobrás se sentiu desprestigiado, abandonou a missão impossível, pediu demissão e resolveu escreve o novo livro.
Vale a pena ler.
Mas a promessa do subtítulo de revelar “A guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula” não foi cumprida.
Fica para outro jornalista.
Só nos resta agora aguardar o próximo livro.
Quem sabe, a próximo obra sobre o governo será escrito pelo atual Ministro da Comunicação Social, o também jornalista Franklin Martins.
Aqui entre nós, mera questão de tempo.
PS: É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey.
Bucci narra conflitos na Radiobrás