Do site Comunique-se Na mesa de fotos das manifestações pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-idealizador do partido na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco nos anos 1980 e também jornalista Eugênio Bucci recebeu o Comunique-se para falar de seu novo livro, “Em Brasília, 19 horas - A guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula” (Ed.

Record), na última segunda-feira (07/04).

Entre o idealismo petista e a ética jornalística à frente da direção da Radiobrás, Eugênio, como gosta de ser chamado, optou pelo segundo: diz ter rompido com a “cultura partidária” dos veículos de comunicação pública.

A resistência estaria por vir: Bucci revela o recebimento de bilhetes enviados pelo ex-ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação, dos ex-ministros da Casa Civil José Dirceu e da Previdência Ricardo Berzoini contra a cobertura de “oposição” da Radiobrás. “Descobri que a tentação de controlar a comunicação pública é um erro cometido por autoridades de todos os partidos”, afirmou o jornalista Eugênio Bucci, e “em todos os governos”.

Apesar dessa “tentação”, o jornalista diz ter se saído bem, ao não ceder às ingerências e críticas.

Dirceu O ex-presidente da Radiobrás, na página 35, transcreve um bilhete recebido em 15/07/2004.

Era de Dirceu, enviado a Gushiken, no qual mostra a posição contra o fim da obrigatoriedade proposta por Bucci da Voz do Brasil e se lê: “Já não basta a Radiobrás e sua ‘objetividade’, que na maioria das vezes significa um misto de ingenuidade e na prática mais uma emissora de \oposição\”.

Bucci respondeu com um: quer que eu me demita?, ao ex-ministro Gushiken, que respondeu: “O que é isso?

Vai desistir e entregar os pontos logo na primeira?” Bucci resolveu ficar.

Ressalta que não teve nenhuma intromissão na linha editorial de Gushiken ou do presidente Lula.

Berzoini O recado do ex-ministro Berzoini está na página 47.

Incomodado com a cobertura que englobava os dois lados, segundo Bucci, da greve dos servidores públicos federais, Berzoini desabafou: “Fazer propaganda de um movimento minoritário (…), claramente em oposição do governo, (…) é demais para o meu espírito democrático.” E emendou: “Na minha modesta opinião, está faltando direção na Radiobrás.” Nesse caso, Bucci preparava uma resposta, mas não teria dado o tempo necessário porque Berzoini saiu da Previdência.

Dirceu e Berzoini foram contatados pelo Comunique-se para comentar suas posições sobre a suposta postura de oposição da Radiobrás.

Até o momento, não tivemos resposta.

Reformas Desde 2003 na presidência da Radiobrás, Eugênio Bucci diz ter impresso uma política de “imparcialidade, apartidarismo e objetividade” no serviço público de comunicação. “Na fotografia dos direitos fundamentais, o direito à informação aparecia mal, sem destaque, como um personagem posto meio de lado”, diz Bucci no livro.

Com exemplos, citava: se uma autoridade usa seu cargo para conseguir primeiro vaga na escola para o filho, não está errado?

Então, da mesma forma, tentava convencer os profissionais que trabalhavam para a empresa de que não era justo escrever fazendo propaganda do governo, para as autoridades saírem bem na foto.

Afirma ter conseguido, pelo menos em parte: criou um manual de redação em 2006, com a colaboração de todos os jornalistas.

O crivo para as matérias também mudou: o jornalismo para o interesse do cidadão tornou-se a prioridade.

A mudança surtiu efeito: de um órgão desconsiderado até mesmo pelas autoridades para pedir entrevistas, por exemplo, passou a respeitado. “Se um jornalista dissesse que era da Radiobrás, ninguém atendia”, conta Bucci.