Editorial da Folha de São Paulo UM TORNEIRO mecânico na Presidência pode iludir alguns com a impressão de que a classe operária chegou ao paraíso, mas foi só o estamento sindical que nele se locupletou.
O paraíso, no Brasil, se chama Estado.
A burocracia das entidades de classe empalmou o Executivo e foi direto à boca do caixa.
O auge desse concubinato foi alcançado com o veto de Lula à fiscalização, pelo TCU, de recursos provenientes da contribuição negocial, o novo nome para o velho imposto sindical.
Não contente em frustrar o controle sobre recursos públicos, o presidente organizou convescote no Palácio do Planalto para comemorar com meia centena de camaradas a conquista do dinheiro fácil.
A festa teve início a portas fechadas, segundo noticiou o jornal “O Globo”.
A alegação era de que se tratava de evento privado, embora patrocinado com recursos dos contribuintes. “Incomoda a um segmento da sociedade, a uma elite que não se conforma com o nosso sucesso”, esbravejou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT). “Mas vão ter que nos aturar durante muito tempo”, desafiou, escancarando intenções que se projetam muito além dos dois anos e nove meses que restam a Lula.
Referia-se, obviamente, à bem-sucedida instalação de uma cabeça-de-ponte sindical no coração do erário.
Lula tentou justificar o veto com o argumento de que a obrigação de prestar contas ao TCU implicaria dano à autonomia sindical.
Soa cômico falar em independência quando a lei em questão promove o reconhecimento estatal de centrais, criadas de modo autônomo anos atrás.
Estão agora domesticadas, em troca de participação na bolada anual de mais de R$ 1 bilhão, sacada dos trabalhadores.
O presidente e seus companheiros podem acreditar que a mudança de nome de imposto para contribuição transforma recursos públicos, recolhidos de modo compulsório pelo Estado, em privados.
Enfrentarão dificuldade, porém, para convencer disso os 86% de trabalhadores brasileiros que optaram por não se sindicalizar, mas mesmo assim terão de pagar o tributo para sustentar sindicatos e centrais.
Houve um tempo em que Lula e correligionários do PT e da CUT defendiam a autonomia sindical de maneira conseqüente, propondo a extinção do imposto sindical.
Num governo em que 45% dos altos cargos ficam nas mãos de filiados a sindicatos e ao partido do presidente, viraram todos a casaca.
A aceitação da tutela do Estado em troca de receita garantida merece ser chamada de peleguismo de resultados.
Ou de sindicalismo estatal.
Independência é que não é.
PS do Blog: O resumo da ópera é mais ou menos o seguinte: Os brasileiros vão contribuir obrigatoriamente com R$ 1,2 bilhão por ano para que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, continuar inflando sua central sindical.
Lula aproveita a popularidade messiânica para liberar a gastança dos sindicatos.
Com o veto à fiscalização, nenhum sindicato, ético ou podre, precisará prestar contas ao Tribunal de Contas da União.
Quem achar ruim, é golpista.