Por Edilson Silva O PSOL é oposição de esquerda à atual administração municipal do Recife.
Localizamo-nos nesta quadra por entendermos que as gestões de João Paulo e seu PT, em aliança com o PC do B, foram absolutamente insuficientes para colocar em marcha uma dinâmica de solução estrutural para os graves problemas que vitimam a nossa gente.
Apesar de sermos oposição de esquerda, o que significa nos diferenciarmos bem do DEM (PFL) de Mendoncinha, do PMDB de Raul Henry, do PPS de Jungmam e do híbrido Cadoca (PSC), que se encontra sem eixo político, não estamos entre os que fazem das eleições um fim em si mesmo, protagonizando uma oposição cega.
Para nós as eleições são processos em que podemos e devemos buscar um bom debate político com a sociedade, e a partir daí ocupar os espaços institucionais para viabilizar as transformações que julgamos necessárias.
São momentos em que podemos e devemos discutir projetos estratégicos, soluções factíveis para as demandas imediatas e fazer balanços sérios e bem embasados sobre as gestões públicas.
Neste sentido, o PSOL tem sido muito duro nas críticas à atual administração da PCR.
Já criticamos as falhas graves na educação, no planejamento estrutural do zoneamento urbano, na falta de transparência, na fraude do OP, na falta de medidas de caráter estratégico na reformulação dos transportes urbanos, nos absurdos da Via Mangue, Parque Dona Lindu, etc.
No entanto, vamos nesta reflexão destoar um pouco daquilo que tem sido a regra de nossas contribuições ao debate sobre os rumos do Recife.
E vamos fazê-lo exatamente sobre uma obra polêmica no centro do Recife: o corredor rodoviário-urbano Leste-Oeste, recém inaugurado pela prefeitura, e que passa pela Avenida Conde da Boa Vista, chegando ao Centro da cidade.
Esclareço, antes de mais nada, que sou um pedestre, usuário cotidiano do transporte coletivo da cidade.
Não é raro me encontrar descendo de ônibus coletivos principalmente na Dantas Barreto, Guararapes ou Conde da Boa Vista.
Do bairro da Encruzilhada, onde moro, costumo pegar na Estrada de Belém as linhas Caixa D\água, Águas Compridas ou Jardins Brasil I ou II, com destino ao centro do Recife.
Mesmo os pedestres, como eu, mesmo que inconscientemente, tem um “modus operandi” de transitar pelas ruas do centro da cidade.
Assim como os motoristas às vezes surpreendem-se “pilotando no automático”, parando em sinais e fazendo curvas a partir de gestos mecânicos, inconscientemente desconcentrados, também nós pedestres muitas vezes andamos pela cidade meio que instintivamente.
Viajamos quadras e quadras no centro da cidade, conversando com nós mesmos ou com algum acompanhante, parando nos sinais, desviando das pessoas, atravessando faixas, mecanicamente, no tal “piloto automático”.
Agora imaginem uma transformação radical na principal avenida que leva e traz gente para o coração da cidade, como o fizeram com a Avenida Conde da Boa Vista.
Bem, acabam de nos obrigar a andar bem mais concentrados, com atenção redobrada nas esquinas, para atravessar as ruas, para pegar os ônibus que tiveram suas paradas alteradas. É esta a sensação dos pedestres que transitam hoje pela Avenida Conde da Boa Vista.
E, convenhamos, trata-se de uma sensação desagradável, é como se estivéssemos em um lugar estranho.
Assim como os pedestres, os motoristas de ônibus, de táxis e de veículos particulares também devem estar sentindo as novidades com estranheza. É natural.
Trata-se de uma mudança que agride a rotina, que não era uma maravilha, mas era uma rotina.
Há críticas sobre a lentidão no trânsito causada pelas mudanças.
Mas se inclusive os pedestres estão mais lentos, contemplando as mudanças e se adaptando a elas, desconfiando até do sinal aberto que lhes garante a travessia nas faixas com segurança, é de se esperar que os motorizados também transitem desconfiados e, portanto, mais cautelosos e mais lentos neste reinício de uma nova rotina.
De onde vejo, as mudanças na Conde da Boa Vista foram positivas.
Não exatamente pelos seus resultados práticos, que só poderão ser analisados com mais propriedade após algum tempo.
O fator positivo está nos critérios que presidiram as mudanças.
Constranger a utilização de veículos de pequeno porte nas vias centrais da cidade, ampliando os espaços para os transportes públicos coletivos, é uma medida quase anti-popular em nossa sociedade do automóvel, mas é absolutamente necessária diante do caos quase instalado.
Ampliar o horário de funcionamento do centro da cidade, pressionando para que cargas e descargas, mudanças residenciais e outras atividades que envolvam veículos de carga sejam feitas fora dos horários de maior movimentação no centro, é absolutamente racional.
Trata-se de uma concepção moderna: redistribuir não só no espaço geográfico, mas também no tempo, nos horários, a ocupação do espaço urbano.
Os taxistas estão detestando não poder parar para deixar ou pegar passageiros ao longo da avenida.
Talvez deva ser feito algum ajuste neste e outros pequenos aspectos, mas estes problemas não maculam a correta concepção que baliza a essência da proposta.
Tomara que a partir destas mudanças os que transitam pelo centro, a pé ou motorizados, reconstruam suas rotinas adaptados à nova Conde da Boa Vista.
Tomara que dê certo.
PS: Silva é presidente do PSOL/PE e candidato à Prefeitura do Recife em 2008.
Ele escreve toda sexta-feira, na série Recife 2008, que promove o debate entre os prefeituráveis