Por Carlos Eduardo Cadoca* Segunda-feira foi um dia de cão no Recife.

A cidade amanheceu em baixo d’água.

Tendo que enfrentar o caos de sempre.

E o pior de tudo.

As chuvas intensas voltaram a provocar morte na área de morro.

A vítima , como se sabe, foi uma criança.

O garoto Leonardo José do Nascimento, 10 anos, soterrado por um deslizamento de barreira enquanto dormia na companhia da mãe e dos irmãos em Lagoa Encantada, Ibura, Zona Sul da cidade.

O resto da família de Leonardo sobreviveu à tragédia, mas ele, lamentavelmente, perdeu a vida embaixo dos escombros.

Ouvi a notícia da morte do menino pelo rádio.

Estava, naquele momento, no carro, preso no engarrafamento em Boa Viagem.

Fazia parte de uma romaria que, de vários pontos da cidade, tentava sair de casa logo cedo e chegar ao trabalho.

Uma desgastante e perigosa maratona por ruas e avenidas inundadas.

As notícias que chegavam a cada minuto não eram nada boas.

A morte de Leonardo.

O drama da família dele.

Destruição.

Pessoas desabrigadas.

Alagamentos por toda parte.

Pane nos sinais e um trânsito que parava a cidade.

Terrível.

A Prefeitura agiu rápido e, ainda na segunda-feira, anunciou estado de alerta máximo no Recife.

Mas é exatamente aí que eu acho que mora o perigo. É preciso mesmo esperar a cidade ficar mergulhada no caos para tomar as providências mais enérgicas?

O inverno é um inimigo íntimo do Recife.

Todo mundo sabe disso.

Não se pode, portanto, entrar com a artilharia pesada contra ele no campo de batalha apenas quando as chuvas estão próximas ou quando chegam e massacram a cidade.

Quando tiram vidas e destroem o patrimônio das pessoas.

Quando deixam a cidade embaixo d`água, no maior sufoco.

A solução definitiva é milionária porque tem a ver com investimento em infra-estrutura.

Com a reestruturação de diversos pontos do sistema de drenagem e de esgoto da cidade.

Um nó que mais dia menos dia terá que ser desatado de alguma forma.

Mas enquanto essa alternativa ainda me parece complexa, a receita tem que ser caseira mesmo.

O inverno e as chuvas têm que estar no calendário de alerta máximo da cidade os 365 dias do ano.

E como isso pode se transformar em uma estratégia eficiente?

Cuidando, quase como uma obsessão, dos aliados mais fiéis que temos nessa guerra, que são os 67 canais e os 700 quilômetros de galerias.

Além da limpeza urbana eficiente e rigorosa, a limpeza sistemática dessa rede de drenagem também é importante nesse combate. É absolutamente primordial cuidar bem da cidade e encarar de frente esse problema, que, a gente sabe muito bem, é crônico e histórico. É preciso criar uma espécie de ciclo anual de manutenção de canais e limpeza de galerias.

Porque quando as chuvas chegam, como aconteceu essa semana, e ainda por cima coincidem com a maré alta, não há como escapar do transtorno.

O cuidado pontual, restrito ao período próximo ao inverno não dá conta do tamanho da confusão que chega com as chuvas.

Também há , segundo um especialista no assunto que consultei, outro mecanismo para atenuar os alagamentos, que é atuar em trechos específicos da cidade que estão afastados dos pontos de drenagem.

Esses trechos têm que ter um reservatório subterrâneo para não ficarem inundados nos picos de chuva.

Ao que me consta, uma intervenção do tipo foi feita com êxito no cruzamento da Conselheiro Portela com a Santo Elias.

Outra providência é evitar, ao máximo, a ocupação desordenada nos morros.

Quando se constrói de todo jeito, as chuvas ganham um aliado de destruição.

Os riscos de deslizamentos aumentam e os canais e galerias também sofrem, a partir do momento que entulho e barro são arrastados para lá pelas águas.

Os jornais desta quarta-feira voltam a estampar o drama da família de Leonardo, desabrigada e inconformada com a precoce morte dele.

Também traz um diagnóstico preocupante.

Moradores de 3.200 áreas do Recife estão em situação de risco.

O esforço de várias administrações municipais nos morros da cidade provocou uma evolução importante.

Infelizmente, ainda temos que nos deparar com dramas como a da família de Leonardo, mas, a gente sabe e reconhece, que já foi muito pior.

O desafio é zerar o número de mortes, reduzir ao máximo os pontos de risco, combater os alagamentos e deixar a cidade funcionando.

O inverno, claro, não dá trégua, mas é preciso ficar de prontidão para enfrentá-lo. *Deputado federal e pré-candidato do PSC à Prefeitura do Recife, escreve para o Blog às quartas, dentro da série “Recife 2008.

Debate com os prefeituráveis”.