Do Blog de Frederico Vasconcelos “Eu peguei o tempo em que o policial batia no preso e o repórter não falava nada”, comentou um jornalista.

Um outro, um pouco mais velho, replicou em tom de blague: “E eu peguei o tempo em que o repórter batia no preso”.

O diálogo está reproduzido no primeiro capítulo do livro “Mídia e Violência - Novas Tendências na Cobertura da Criminalidade e Segurança no Brasil”, de Sílvia Ramos e Anabela Paiva, um trabalho pioneiro do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, com apoio do Iuperj-Tec, Secretaria Especial de Direitos Humanos e União Européia.

O livro é resultado de três anos de pesquisas sobre a produção diária de jornais, com avaliação de 5.165 textos e entrevistas com 90 jornalistas e especialistas em segurança pública.

A todos, as autoras fizeram duas perguntas centrais: como os jornais cobrem violência, segurança pública, crime e polícia?

Como é possível melhorar esta cobertura? “O jornalismo policial mudou, e mudou para melhor.

Mas ainda precisa melhorar muito”, afirma Marcelo Beraba, ex-ombudsman da Folha e primeiro presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), na apresentação do livro.

Ele diz que o jornalismo precisa dar um salto de qualidade, que se chama especialização. “Faro, coragem e jogo de cintura já não são suficientes para caracterizar o bom repórter”. “O sensacionalismo, as páginas de cadáveres e sangue, os textos preconceituosos, a mitificação de bandidos foram, ao longo das últimas décadas, dando espaço para um jornalismo mais objetivo, mais preciso, mais responsável e mais preocupado em entender os atos de violência e de criminalidade que atingem as nossas cidades e as nossas vidas”.

Segundo Beraba, “o estudo abre espaço para as várias vozes da sociedade que hoje tentam de alguma maneira fazer uma reflexão sobre a criminalidade e sobre como os meios de comunicação a retratam. É, sem dúvida, o melhor trabalho já produzido com o intuito de ajudar a melhorar a cobertura policial da imprensa brasileira”.

Segundo as autoras, “um possível consenso entre todos os envolvidos nesse amplo processo de consulta é que os jornais melhoraram significativamente sua cobertura nos últimos anos, e podem melhorar muito mais”. “Pouco a pouco, as velhas práticas de reportagens de polícia, como a troca de favores com fontes policiais, estão sendo reduzidas; matérias sensacionalistas perdem espaço, enquanto assuntos relacionados à segurança pública e aos direitos humanos entram na pauta”. “Nós apostamos na mudança”, concluem Sílvia Ramos e Anabela Paiva.

PS: Foi durante um debate realizado na semana passada, no Recife, sobre o livro de Sílvia Ramos e Anabela Paiva, que o assessor de imprensa da secretaria de Defesa Social, Joaquim Netto, disse que preferia falar com bandidos do que com com alguns jornalistas.

Leia post anterior sobre o assunto.