Por André Regis Considerando a recente visita do Presidente Lula a Pernambuco, devemos abrir espaço para a análise sobre o embate governo municipal versus oposição e a possibilidade do PT fazer o sucessor do Prefeito João Paulo.

Neste sentido, torna-se interessante fazermos um balanço acerca das últimas eleições para prefeito do Recife, desde a redemocratização, até a última, que reelegeu João Paulo, para verificarmos quão decisivo para o candidato vencedor tem sido o apoio do prefeito, do governador e do presidente.

Em 1985, no retorno das eleições diretas para prefeito de capitais, Jarbas Vasconcelos, então no PSB, após conturbada saída do PMDB, derrotou o deputado federal Sérgio Murilo, do PMDB, este apoiado pelo prefeito Joaquim Francisco, pelo governador Roberto Magalhães e ainda, pelo popular (graças ao Plano Cruzado), presidente José Sarney.

Sérgio Murilo, que liderou a disputa até próximo aos últimos dias, perdeu principalmente pela péssima condução de sua campanha.

Vale registrar que essa disputa foi marcada por acusações sobre honra dos candidatos.

Em 1988, Joaquim Francisco retorna a prefeitura, após uma vitória esmagadora sobre o deputado estadual Marcus Cunha.

Esta eleição ficou marcada pelo fato de Joaquim ter ganhado contra o candidato do prefeito mais popular do Brasil (Jarbas) e do governador Miguel Arraes.

Sarney ainda era presidente, mas tão enfraquecido que não desempenhou nenhum papel relevante nas eleições municipais daquele ano.

Joaquim soube fazer uma campanha praticamente sem erros.

Ele conseguiu passar a imagem do candidato probo, firme e competente.

Fato possível pela memória recente de sua bem sucedida passagem pela prefeitura, inclusive, tendo sido considerado à época o melhor prefeito do Brasil, e também por ter saído, por vontade própria, do ministério de Sarney atacando o presidente com a famosa frase: “participo de um governo de transição, mas não de transação”.

Em 1992, Jarbas Vasconcelos retoma a prefeitura com extrema facilidade derrotando o deputado André de Paula, candidato do prefeito Gilberto Marques Paulo e do governador Joaquim Francisco.

Itamar era o presidente ainda numa época de hiperinflação, portanto, sem peso para influenciar a disputa (tanto por falta de popularidade quanto por falta de recursos).

Esta foi a primeira disputa majoritária de Eduardo Campos que, no entanto, foi superado, até mesmo por Newton Carneiro.

Jarbas Vasconcelos, em campanha muito semelhante a de Joaquim de 1988, apoiou-se no tripé democracia participativa, firmeza e competência.

Fato facilitado pelo sucesso de sua primeira gestão quando também foi reconhecido pela opinião pública como o melhor prefeito do Brasil.

Em 1996, rompe-se o padrão.

Pela primeira vez, no período analisado, o candidato do prefeito vence a disputa.

Roberto Magalhães ganhou com o apoio de Jarbas.

Magalhães também não teve o apoio de FHC.

Aqui o PSDB teve candidato, João Braga (ex-secretário do próprio Jarbas).

Não obstante, o apoio a Braga foi muito discreto por conta dos acordos firmados com Marco Maciel.

Por muito pouco não houve segundo turno, principalmente, pelo fato desta disputa contar ainda com as participações de Roberto Freire (como candidato do governador Miguel Arraes) e João Paulo, pelo PT.

Em 2000, uma nova regra entra em cena: a possibilidade de reeleição.

Numa campanha que aparentava ser absolutamente tranqüila, Roberto Magalhães, apoiado por Jarbas, perde a disputa após uma série de grandes equívocos.

João Paulo, estimulado pela chamada onda vermelha, ganha no segundo turno.

Esse pleito serviu para mostrar que eleição não se vence de véspera.

Campanhas desastrosas podem destruir candidaturas, mesmo a do favorito.

Finalmente, em 2004, João Paulo, contando com a ajuda de Duda Mendonça e dos graves erros cometidos por seus adversários, reelege-se ainda no primeiro turno, mesmo com muitos candidatos conhecidos na disputa.

Cadoca (apoiado por Jarbas) e Joaquim (abandonado à própria sorte pelos fiadores de sua campanha) mostraram que é possível se fazer tudo de errado numa campanha.

Cadoca não se preparou bem para a disputa.

Sua performance nos debates foi um desastre, seu guia um fiasco.

Seus principais erros foram: a) o kamikaze ataque à obra de reurbanização de Brasília Teimosa; e, b) parecer mais com um candidato a governador do que a prefeito (prometendo resolver o problema do desemprego e da violência).

Por sua vez, Joaquim fez uma campanha no melhor estilo vale a pena ver de novo.

Assim, aos olhos do público, que observa a política como um espetáculo, ele aparecia como um produto já superado.

Mesmo sem ganhar a eleição, Raul Jungmann se beneficia da disputa ao firmar-se como candidato majoritário, a partir de um discurso voltado para a classe média.

Diante do exposto, fica fácil concluir que a eleição no Recife é decidida pela disputa entre os candidatos no confronto direto entre eles, principalmente, através do guia eleitoral e não a partir de apoios obtidos.

Assim, apesar de bem avaliado (como aconteceu com todos os seus antecessores), dificilmente, João Paulo será um fator capaz de, isoladamente, levar João da Costa à vitória.

Isso pode animar a oposição.

A novidade, no entanto, é o fenômeno Lula, pois nunca um presidente foi tão forte e popular em Pernambuco.

Por fim, tudo indica que a oposição ao prefeito João Paulo tenderá a ficar inibida e desnorteada ante as extraordinárias marcas de popularidade ostentadas tanto pelo prefeito quanto pelo presidente.

De fato, atacar o presidente não faz sentido, afinal a disputa é local.

No entanto, evitar o confronto com o prefeito e sua gestão me parece um grande equívoco.

Até o presente, venceu quem errou menos, teve a melhor estratégia e a melhor condução de campanha.

PS: André Regis é Ph.D. em Ciência Política pela NSSR de Nova York.