Por Jorge Cavalcanti Da editoria de Política do JC Longe do poder há dois anos e seis meses, o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP) recebeu um afago que o tirou do ostracismo em que vive desde que renunciou ao mandato e à Presidência da Câmara Federal, em setembro de 2005.
O autor da homenagem não poderia ser alguém melhor para um político em baixa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Do alto dos seus 73% de aprovação pessoal, Lula disse, na última quarta-feira, no Recife, que “continua tendo o mesmo respeito hoje que tinha há muito tempo” e atribuiu a renúncia do ex-parlamentar aos adversários do governo.
Visto por Lula como vítima do preconceito da “elite paulista”, Severino não escondeu a felicidade com a defesa do presidente.
Sentado na platéia durante o anúncio de repasses da União para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Bairro do Jordão, o ex-deputado foi pego de surpresa com a deferência pública.
Agora, exibe um sentimento de alma lavada. “A verdade sempre chega.
Ele interpretou exatamente o que ocorreu no episódio (da acusação que levou à renúncia).
Se ele não tivesse certeza, não diria o que disse”, comemorou, feliz por ter sido o “único citado nominalmente”.
Severino é uma das figuras sempre presentes aos eventos que envolvem uma visita de Lula a Pernambuco, mesmo sem possuir um mandato. “Nada me impede, vou como um cidadão qualquer”, diz.
Após a citação do presidente, o ex-deputado conta que recebeu uma “infinidade de ligações de solidariedade”. “No metrô, quem mais tirou foto fui eu”, conta, referindo-se à visita do presidente à Linha Sul do metrô do Recife.
Após se eleger presidente da Câmara graças a um racha no PT e da base aliada, Severino foi forçado a abrir mão do cargo e do mandato, sob pena de ser cassado por quebra de decoro parlamentar.
Ele foi acusado de cobrar propina – em um episódio que ficou conhecido como mensalinho – ao empresário Augusto Buani.
Em troca, o ex-deputado concederia a renovação da concessão e a permissão do reajuste dos preços do restaurante que Buani mantinha na Casa.
O episódio culminou na denúncia do Ministério Público Federal à Justiça.
VOLTA AO PODER Embora tenha prometido no seu discurso de renúncia que voltaria à Câmara absolvido pelo povo, Severino fracassou.
Em 2006, obteve 53.715 votos, que o deixaram na primeira suplência da sua coligação.
Agora, trabalha novamente para conseguir o perdão dos eleitores.
Desta vez, para o Executivo municipal da sua cidade natal.
O ex-deputado vai disputar a Prefeitura de João Alfredo (Agreste) contra o ex-prefeito Sebastião Mendes (PTB), que já administrou a cidade quatro vezes. “Mandei fazer uma pesquisa (de intenção de voto), mas o resultado deve sair esta semana”, diz o ex-deputado, apreensivo.
Aos 77 anos, Severino já governou João Alfredo na década de 60.
Teve também sete mandatos consecutivos de deputado estadual e três de federal.
Na Câmara, o corporativismo rendeu-lhe sempre cargos na mesa diretora e o apelido de “rei do baixo clero” – expressão que denota influência sobre deputados de pouca expressão política.
Ganhou destaque também pela postura enfática na defesa de temas polêmicos, como contra o aborto e a união entre homossexuais.