Por Raul Henry Hoje o desafio mais urgente do Recife é enfrentar o dramático crescimento da sua violência urbana.
Os números são estarrecedores.
Até o meio-dia desta sexta-feira, o contador do Blog PEbodycount marcava 1083 assassinatos durante os três primeiros meses do ano.
Deste total, 493 foram cometidos na capital.
A maioria dessas mortes foi registrada entre jovens de 16 a 24 anos.
Meninos que por abandono familiar e total ausência do poder público entraram para um mundo ingrato, onde matar ou morrer virou rotina de vida.
A juventude que assalta a classe média nos sinais de trânsito é a mesma assassinada por traficantes e grupos de extermínio, nas áreas mais pobres da cidade.
Essa perversa realidade transformou o Recife na capital mais sangrenta do Brasil, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008 - estudo divulgado no último dia 29 de janeiro pela Unesco.
A pesquisa aponta uma taxa de 90.5 homicídios por 100 mil habitantes.
Das 5.564 cidades analisadas, a capital pernambucana é a nona no ranking dos assassinatos.
Todos os municípios à frente do Recife são de porte médio e pequeno, com população inferior a 400 mil habitantes, quando a nossa já supera a marca de 1,5 milhão.
Os óbitos levantados junto ao Ministério da Saúde demonstram uma estatística desoladora, muitas vezes pior do que a de países em guerra declarada.
De acordo com o IBGE, a Região Metropolitana do Recife tem hoje mais de 29 mil jovens desempregados e fora da sala de aula.
Sem nenhuma perspectiva de futuro e auto-estima, acabam envolvidos com a criminalidade, colocando em risco a própria vida e a de seus familiares.
A situação é grave.
Mas tem solução, desde que o problema seja tratado de forma integrada, com decisão política, seriedade e continuidade.
Alguns não entenderam, ou tentaram politizar, quando, no último dia 3 de março, levei o ex-secretário de Segurança Cidadã de Bogotá e consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Hugo Acero, para uma audiência com Eduardo Campos, no Palácio das Princesas.
Embora eu e o governador estejamos em campos opostos na política, entendo que o combate à violência urbana não pode ser partidarizado.
Mais que isso: precisa se dar através de uma ação conjunta entre os governos federal, estadual e municipal, mesmo que constitucionalmente não seja atribuição desse último.
O novo prefeito do Recife precisa ter participação ativa nessa luta.
Ciente disso, em 2007, fui ver de perto o exemplo de cidades latino-americanas que tomaram como prioridade máxima o combate à violência.
Pelas mãos de Hugo Acero, tive a oportunidade de conhecer a nova realidade das colombianas Bogotá e Medellín e da equatoriana Guayaquil, que reduziram os seus índices de violência de forma rápida e eficaz.
Em 1991, 9.463 pessoas foram assassinadas em Medellín.
Já em 2005, esse número despencou para 782, numa incrível redução da taxa de homicídios de 384 para 32.8 por 100 mil habitantes.
Nas três cidades visitadas, é claramente observada a presença do poder municipal através de políticas públicas focadas no bem-estar da população.
São equipamentos de alto padrão entre escolas e bibliotecas, qualificação profissional para os jovens, centros de apoio ao cidadão, entre outras ações, que resgataram a qualidade de vida da população.
Também se investiu, amplamente, no alargamento das calçadas, na iluminação pública e na melhoria do transporte coletivo.
Depois das intervenções urbanas, Guayaquil, por exemplo, passou a ser considerada paradigma em desenvolvimento humano pela ONU.
No mês passado, voltei a visitar as comunidades do Coque e de Santo Amaro, desta vez na companhia de Hugo Acero.
Ele me disse ter ficado impressionado com a semelhança geográfica e social entre o Recife e Guayaquil.
Também comprovou o que eu havia dito, anteriormente, sobre o descaso da administração municipal com as áreas mais degradadas da cidade.
Diante daquele triste cenário, vislumbramos um novo futuro para o Recife.
Acero é um dos responsáveis pela proposta de combate à violência que apresentaremos em nosso programa de governo.
Hoje ele está novamente na cidade, participando do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, para deixar aqui a sua contribuição.
Volto a afirmar que as iniciativas citadas neste artigo podem e devem ser coordenadas pela administração municipal em conjunto com os governos Federal e Estadual, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a sociedade organizada.
Não há nenhum delírio ou contra-senso em adotar um exemplo vitorioso e concebido para uma realidade bastante parecida com a nossa, cujo modelo é reconhecido mundo afora.
Quem critica, faz por despreparo ou demagogia.
Portanto, a Prefeitura do Recife não fará mais do que a sua obrigação ao oferecer mais qualidade de vida para o seu povo e assim resgatar milhares de vidas que atualmente estão entregues à própria sorte.