O assessor de comunicação da Secretaria de Defesa Social, Joaquim Netto, fez uma declaração no mínimo profundamente infeliz na mesa-redonda Mídia e Segurança Pública, durante o II Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que acontece no Recife.
Ao pedir a palavra, Netto, que estava na platéia, disse que, em Pernambuco, alguns repórteres são “maquiavélicos.” “Às vezes, é melhor falar com bandidos do que falar com alguns jornalistas.” Quem assistiu à palestra, conta que o constrangimento entre os presentes foi visível diante das declarações.
Além do repórter do JC e editor do blog PEbodycount Carlos Eduardo Santos, participavam da mesa o editor de Cidades do jornal O Globo (RJ), Jorge Barros, as pesquisadoras Silvia Ramos (RJ) e Maria Stela Grossi (Brasília).
Na platéia, havia cerca de 40 pessoas, entre elas as secretárias de Segurança Pública da Bahia e do Maranhão e o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais.
Mesmo correndo o risco de ser acusado de corporativista, sinto a obrigação de dar um testemunho público.
Cada governo deve saber o que é melhor para si.
Isto inclui a escolha de seus interlocutores preferenciais, sejam jornalistas ou qualquer outra categoria, profissional ou não.
Netto acerta quando ressalva que nem todo jornalista é bandido, mas esquece de dizer que há bandidos que sequer jornalistas o são.
Pilantragem não precisa de carteira na DRT, mas não faltam pilantras em busca de uma, para ganharem status de jornalista.
O secretário de Comunicação do Estado, Evaldo Costa, deveria vir a público dizer se concorda ou não com os ataques aos jornalistas pernambucanos.
Não surpreende essa arrogância, em tempos em que o próprio presidente da República, já veio a público para reclamar da imprensa livre, um dos pilares de qualquer democracia do mundo.
O curioso é que, nos tempos da ditadura, em que Joaquim Netto foi forjado como repórter, uma declaração destas de uma autoridade pública ensejaria demissão sumária.
Com zero de saudades daquele tempo de chumbo, o Blog dá vivas ao ambiente democrático que se respira.
Aproveita para dizer que Cacá e os demais colegas do JC e Body Count são excelentes jornalistas, fruto, já em segunda geração, da profissionalização que o Sistema Jornal do Commercio imprimiu à mídia local, desde o início dos anos 90.
Se todos os bandidos deste Estado fossem como esses jovens, Pernambuco nunca precisaria de um Pacto pela Vida.