Por Carlos Eduardo Cadoca* Pense aí.

Se você fosse receber hoje um amigo de fora.

Uma pessoa de outra cidade, que nunca veio ao Recife, você incluiria o centro da cidade no seu tour?

Levaria seu amigo à rua do Imperador, à pracinha do Diario, à Dantas Barreto.

Levaria a Santo Antônio ou a São José?

Fiz essas perguntas a algumas pessoas e as respostas foram sempre as mesmas.

Não.

Não levariam.

E por quê?

Para que o visitante não saísse do Recife com uma má impressão.

Não saísse daqui levando na bagagem a recordação de uma cidade mal cuidada.

Uma cidade feia, desorganizada e violenta. É o retrato, em negativo, que se tem hoje do centro.

O que tem prejudicado, inclusive, o roteiro histórico do turismo.

Nem sempre foi assim.

O centro da cidade, é verdade, nunca foi nenhum exemplo de organização, mas tinha muita energia.

Era vibrante.

Atraía todos os dias uma multidão.

As pessoas invadiam as ruas para comprar, para ir aos bancos, para almoçar, trabalhar, para ir ao cinema, para ir ao médico, para estudar, enfim, para resolver coisas do dia-a-dia ou simplesmente para encontrar lazer.

Esse cenário, infelizmente, foi desmontado.

A desocupação gradativa do centro não é uma particularidade do Recife.

Várias cidades do país e do mundo se depararam com o mesmo problema. É o caso no Brasil, por exemplo, de São Paulo, que já está trabalhando para sair disso.

Aqui, no Recife, a modernidade trouxe os shoppings, que colaboraram para que o centro deixasse de ser a área vip da cidade em termos de movimentação.

Apesar do esforço dos comerciantes, ficou difícil mesmo concorrer com o charme, a segurança e a comodidade dos centros de compras.

Além do mais, a cidade realmente cresceu muito para o lado sul.

Mas e aí?

A resposta me parece simples.

Se você não pode concorrer de igual para igual com o novo nem fazer de conta que não está nem aí para ele, adapte-se as circunstâncias.

Reinvente-se.

E é por isso que nós achamos que há, sim, uma alternativa para resgatar os velhos e bons tempos do centro da cidade.

A degradação do centro do Recife é reversível.

E isso será possível se a gente devolver vida àquela parte da cidade. É preciso reorganizar o comércio ambulante, estimular o comércio formal e, sobretudo, investir fortemente no projeto de moradia no centro da cidade.

Pensando, inclusive, no conceito do centro expandido, que envolveria o Bairro do Recife, e proporcionando a integração da cidade com o porto.

O mercado imobiliário já abriu os olhos para o filão que é o centro.

Os prédios modernos começam a surgir na Rua da Aurora e no Cais de Santa Rita, mas é possível estimular a moradia no centro a custos mais acessíveis.

Criar condições para atrair, por exemplo, gente que já trabalha no centro, policiais, servidores públicos e superar algumas questões estruturais para aproveitar as áreas ociosas.

A prefeitura pode fazer uma operação urbana no centro em parceria com a iniciativa privada para viabilizar esse projeto.

Essa operação permite delimitar a área da cidade que precisa ser revitalizada e criar uma legislação específica para isso. É possível, assim, criar o ambiente para que seja possível morar, viver e trabalhar lá.

Temos certeza de que a partir do momento em que as pessoas chegarem ao centro para morar, nós teremos uma revitalização relativamente rápida da área central da cidade.

A moradia puxa os serviços locais.

Quem não gosta de comprar pão na esquina de casa?

De levar os filhos para escola sem precisar dirigir?

Descer do prédio e encontrar o comércio aos seus pés?

Tudo fica mais fácil e rápido de resolver.

O assunto tem sido discutido e aprofundado nos debates que temos realizado semanalmente com profissionais que são conhecedores dessas e de outras questões para formatar uma proposta concreta para a cidade.

O que eu chamo de concreto é dizer o que podemos fazer e mostrar os caminhos e os meios para chegar lá.

O centro do Recife merece e precisa que esses desafios sejam encarados de frente. *Deputado federal e pré-candidato do PSC à prefeitura do Recife, escreve às quartas para o Blog, dentro da série “Recife 2008.

Debate com os prefeituráveis”.