Por Raul Jungmann Era um quase vexame.

Tinha, sei lá, umas 8, 10 pessoas na palestra na sede do Porto Digital, lá no Recife antigo, as oito da noite.

Também, quem mandara fazer a palestra do André Urani, renomado pesquisador da área de emprego e renda, numa sexta-feira à noite – e as vésperas do fim do ano?

A coisa seguia lenta para minha aflição, quando Francisco Saboya, presidente do Porto Digital, assim como quem não quer nada, falou: perdemos 2000 empregos! - Como assim Chico?, perguntei. - A EDF americana, gigante da área de softhouse, com linha de montagem e tudo, que tinha o Recife como localização preferencial, se mandou.

E tchau 2 mil empregos…. - Mas, pera, por que se mandou?

Por que perdemos mais essa? - Seguinte, eles contrataram uma grande consultora internacional, a Deloitte, pra definir a localização.

A coisa ia muito bem para nós nos itens mão de obra qualificada, governança do setor, proximidade e qualidade do setor acadêmico, e ai… - Ai o que? - …quando chegou no item educação básica, a coisa ficou feia.

Nossos indicadores, vis a vis demais capitais, eram pra lá de negativos.

Ai, começamos a descer ladeira a baixo.

Já ia começar o meu discurso padrão sobre o desastre que é o ensino público no Recife, citando dados e pesquisas, quando Chico arrematou. - Agora, a pá de cal mesmo, o que nos enterrou de vez, foi a segurança. - Insegurança, você quer dizer. - Isso, insegurança.

Ou violência, como queira. É que eles levam em conta as condições de habitabilidade, qualidade de vida, segurança, essas coisas, na tomada de decisão.

E, enquanto a avaliação foi daquilo que podemos chamar do Porto Digital e seu entorno, as coisas caminharam bem.

Porém, quando se deu um out-look na cidade - infra, educação, segurança etc - dançamos feio.

Não que eu tenha visto o relatório final, mas quem viu nos contou. - E foram pra onde? perguntei desanimado. - Ao que parece, Curitiba.

Ao menos essa era a decisão.

Para meu alívio, o debate após a palestra não prolongou-se noite a dentro, nem teve, como usualmente entre nós, “perguntadores” que mais se parecem com conferencistas intermináveis.

Despedimo-nos e, após deixar o professor Urani no hotel, com um derradeiro pedido de desculpas e explicações pela diminuta platéia, ainda que de boa qualidade – no que ele concordou – fui para casa.

No caminho fui pensando um bom tempo, pois moro distante do centro.

O setor de TI, Tecnologia da Informação, fatura, em todo o Estado de Pernambuco, aproximadamente R$ 700 milhões.

O Porto Digital deve responder por algo entre 350 a 400 milhões desse total.

Emprega, segundo Chico Saboya, algo ao redor de 4.000 pessoas, com salário médio de 2 mil reais.

Um oásis de futuro na nossa ancilar economia.

Com a EDF, esse número de empregos diretos pularia para 6.000.

E, vamos lá, os indiretos, num cálculo bem conservador, seriam mais 2.000, totalizando 4 mil empregos entre diretos e indiretos – um Porto Digital inteiro perdido!

Remoia isso, imaginando quantas “EDFs” não perdêramos antes e perderíamos depois, quanta chance, quanto futuro estávamos jogando fora por não ter um rumo para nossa cidade, quando o sinal abriu e, erguendo os olhos, dei de cara com o anúncio luminoso: “A GRANDE OBRA É CUIDAR DAS PESSOAS”.

Em Curitiba, sem dúvida.

PS: Raul Jungmann é Deputado federal e pré-candidato a prefeito do Recife pelo PPS, escreve no Blog às terças dentro da série “Recife 2008.

Debate com os Prefeituráveis”.