Por Janio Ferreira Soares* Depois de tentar paralisar a transposição do rio São Francisco com duas fracassadas greves de fome, dom Luiz Cappio, quem diria, vai ser malhado como o Judas de 2008 pelos moradores do Crato (CE).

O fato se daria no Sábado de Aleluia durante o encerramento da 8ª Festa Popular da Malhação do Judas de Crato, no Centro Cultural do Araripe, região do Cariri.

A sua escolha foi feita por um Blog local e teve a seguinte pergunta: “Quem você escolheria para a malhação do Judas?” O vencedor, disparado, foi o Bispo, com 40% dos votos, seguido pelo Cartão Corporativo, com 14%, Bush e a Ingratidão, empatados com 7% e, por fim, Fernandinho Beira-Mar, o Salário Mínimo, o Trem do Cariri, as Drogas e Hitler.

E por que cargas d´água os cearenses pegaram logo dom Cappio pra Judas?

A resposta é simples. É que algumas cidades da região serão beneficiadas com a transposição do rio e, por ele ser contra, virou persona non grata por lá.

Crato fica justamente no Estado do ministro e desafeto declarado de dom Cappio, Ciro Gomes.

A propósito, não soube de nenhum protesto das celebridades defensoras do Bispo.

Cadê Eduardo Suplicy, Heloisa Helena, Stédile, Sabatella e tantos outros?

Como diria Tutty Vasquez, “ô raça!”.

A malhação de Judas existe há séculos em quase todo o mundo.

Segundo o historiador Homero Guião, cada lugar tem a sua forma de executá-lo.

Em certos países da Europa eles eram queimados em frente aos cemitérios e igrejas.

Na Suíça, o Judas era morto com um tiro de fuzil.

Já em Portugal ele era submetido a um julgamento e só depois enforcado e queimado.

Por aqui a tradição continua viva, principalmente nas cidades do interior, onde a população usa e abusa da criatividade e do deboche para extravasar suas mágoas.

Por sinal, estou doido pra saber o que constou no seu inventário.

Sim, porque todo Judas que se preza tem que deixar um testamento em forma de versos, que é lido em voz alta antes de sua execução.

Na velha e saudosa cidade de Glória (BA), quem preparava a lista para ser lida na difusora de dona Nenê era Alaor, pai do jornalista Hugo Soares, juntamente com meu pai, o tenente Zé da Silva.

Acho que se os dois estivessem vivos escreveriam algo mais ou menos assim. “Para Letícia Sabatella, cujos olhos de quimera me fizeram balançar, deixo uma bacia vazia que é pra ela lembrar que um dia o nosso rio pode secar”. “Para o senador Suplicy, que discursa até pro vento, deixo minhas sandálias de tiras e a versão de Blowin´in the wind na voz de Diana Pequeno”. “Para o boçal do Ciro, que pensa que o céu é perto, vou reservar a melhor suíte lá no quinto dos infernos”. “E para o tal de Geddel, que tanto me magoou, lhe deixo como castigo o prefeito de Salvador”. *Janio Ferreira Soares é consultor da Secretaria da Cultura de Glória (BA), nas margens do Rio São Francisco.

O texto foi publicado no portal Terra.