Liberdade de imprensa Por João Paulo Lima e Silva Na página de Opinião do JC de Hoje Recentemente, a revista Época publicou três reportagens, em semanas seguidas, sobre supostas irregularidades na contratação dos serviços da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) pela Prefeitura do Recife.
Como tínhamos esclarecimentos bastante consistentes para apresentar, enviamos nossas respostas às questões solicitadas pela revista (para a primeira reportagem), cartas à redação da revista (para a segunda e terceira reportagens).
O que saiu publicado, no entanto, foram três dedos de texto que, modificados pela Época, diziam pouco ou quase nada em nossa defesa.
A experiência com a Época mostra que a liberdade de imprensa – condição essencial para o funcionamento da democracia – é exercida no Brasil em mão única.
Os grandes veículos têm amplo e justo direito de expressão, mas aos cidadãos que se sentem prejudicados por uma matéria jornalística, resta o espaço apertado das cartas à redação ou o penoso caminho judicial.
Afinal, quando a causa é ganha pelo sem-imprensa, muitas vezes sua reputação já foi prejudicada.
E, note-se, mesmo o direito de resposta por via jurídica não chama a atenção dos leitores quando é veiculado.
Propositalmente, jornais e revistas tratam de escondê-lo em letras miúdas, com diagramação sem graça e nenhuma foto.
No caso relativo à revista Época não quisemos, em nenhum momento, desqualificar seu jornalismo.
Queríamos nos defender de uma acusação baseada em informações desencontradas e em alguns casos falsas.
Não foi possível.
Mesmo após a entrevista coletiva que fizemos para não deixar dúvidas sobre o nosso contrato com a Finatec, as acusações feitas no texto da revista, amplamente replicado por alguns veículos da imprensa local, permanecem como verdade absoluta pela ausência de uma resposta com o mesmo destaque da matéria.
Destaque, nesse caso, tem que ser entendido não apenas por conteúdo, mas também como forma.
Pode ser ingenuidade imaginar um jornalismo nesses termos, com amplo direito de defesa.
Mas os repórteres – de Época e de outros veículos – deveriam se preocupar em pelo menos ouvir e publicar as duas partes.
A revista até nos ouviu.
Mandou um questionário que foi respondido ponto a ponto.
Mas nada disso apareceu impresso.
Nem na primeira matéria, nem na segunda, nem terceira.
Sem entrar em análises sobre o poder das grandes corporações da mídia – seus interesses e ramificações –, cabe afirmar que a Época seguiu no vício comum às revistas semanais.
Cria-se uma tese e os repórteres caem em campo para comprová-la.
Se os fatos não batem com o pensamento do veículo, azar dos fatos.
Foi o que aconteceu conosco.
Na reportagem nem sequer foi mencionado que o prefeito do Recife foi procurado e que atendeu prontamente a revista.
Para o futuro, os teóricos da comunicação prevêem que a internet tornará possível o sonho de uma comunicação com via dupla, em que o internauta será, ao mesmo tempo, receptor e transmissor de mensagens, num ambiente interativo e mais democrático.
Enquanto isso não chega de vez, estamos à mercê de uma instância quase blindada a apelações – uma espécie de judiciário privado, fechado ao público externo, que julga pessoas e instituições e emite veredictos a partir do que foi decidido numa reunião de pauta ou pelas direções das corporações.
PS: Por falar em internet, nossos argumentos sobre o contrato com a Finatec estão no site www.recife.pe.gov.br PS: João Paulo Lima e Silva é prefeito do Recife.
Comento: O Blog de Jamildo não costuma gabar-se, mas foi o único a publicar a respota da PCR na íntegra, em sua sessão de artigos.