Rabo Preso Por Valdo Cruz E tudo ficou só no campo da retórica, dos ataques verbais e ameaças que, felizmente, não foram cumpridas.

Escapamos de uma guerrinha aqui no nosso quintal, na América do Sul.

Contribuiu, e muito, a mediação do governo brasileiro.

Lula fugiu dos holofotes e circunscreveu o caso à região e a seu palco institucional adequado, a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Um diplomata aponta, porém, outro fator que acredita também ter contribuído para acalmar os ânimos dos mais exaltados: todos os envolvidos têm ou podem ter algum rabo preso no episódio.

Principalmente os incendiários.

O alvo dessa análise são os Estados Unidos e a Venezuela.

George Bush hipotecou apoio ao colombiano Álvaro Uribe.

Ficou nisso.

Não quis avocar para si o papel de protagonista, como adora fazer.

Talvez porque, se fossem investigar, diz esse diplomata, iriam descobrir que a localização do acampamento das Farc no Equador, bombardeado pelo exército colombiano, teria sido obra da inteligência norte-americana.

Hugo Chávez, depois de começar com um discurso provocador, já estava falando em transformar as Farc em partido político, com a deposição de suas armas.

A evolução da retórica chavista mostra que ele pode ter se sentido acuado com as acusações de que estaria financiando o grupo guerrilheiro colombiano.

Provada a denúncia, Chávez ficaria em maus lençóis e perderia toda razão.

Seria acusado de estar, na verdade, pagando pela libertação de reféns da guerrilha colombiana na busca de lustrar sua imagem internacionalmente.

Resultado: Bush e Chávez ficaram nos discursos e não tiveram condições de atropelar a estratégia brasileira, que se pautou pelo isolamento dos dois no processo de solução da crise sul-americana.

Ponto para o Brasil, que no episódio só fica devendo por até hoje não admitir que as Farc é um bando de guerrilheiros.

Uma pena.