Leia entrevista com o senador Raimundo Colombo (DEM-SC), presidente da CPI das ONGs: ÉPOCA - Qual foi a importância da reportagem de ÉPOCA sobre a Finatec para a CPI?

Colombo - A partir dela foi possível perceber um esquema irregular e milionário de contratações da Finatec por prefeituras e órgãos públicos sem respeitar a lei de licitações.

Empresas estavam sendo subcontratadas ilegalmente.

Na próxima quinta-feira, inclusive, vamos votar a quebra de sigilo bancário e fiscal de dirigentes da Finatec e do empresário Luís Lima, dono da Intercorp. ÉPOCA - Acabou o marasmo na CPI das ONGs?

Colombo - Enfim ela está vivendo seu momento mais decisivo: o da investigação.

Precisamos sair do campo das evidências para o da coleção de provas. ÉPOCA - De que forma as quebras de sigilo vão ajudar?

Colombo - Vamos cruzar esses dados com as informações relativas às organizações não-governamentais.

Se observarmos que o dinheiro repassado às ONGs pelo governo chega aos suspeitos e a pessoas ligadas a eles, poderemos descobrir verdadeiras quadrilhas. ÉPOCA - Por que temos visto tantas ONGs ligadas a políticos recebendo dinheiro público?

Colombo - Acabam se misturando os interesses políticos dos parlamentares com os eleitorais.

Existe também a fragilidade da legislação das ONGs que ajuda nas irregularidades.

Na prática, ainda não existem freios para que ONGs ligadas a políticos deixem de ser beneficiadas.

O governo adiou a adoção de medidas porque estamos em ano eleitoral.

Foi irresponsável.

Nesse ambiente, são muito fortes as evidências de que o dinheiro destinado às ONGs irriga campanhas eleitorais. ÉPOCA - De que maneira o governo está dificultando o andamento da CPI?

Colombo - Nas últimas três reuniões, não conseguimos avançar na quebra de sigilos, mas acredito que na próxima reunião não vai ter resistência.

A CPI não pode ser uma ação de governo e oposição.

Tem de ser um trabalho de investigação de todos. ÉPOCA - O que mais chamou a atenção do senhor até agora?

Colombo - A quantidade de dinheiro destinada às fundações de pesquisa nos últimos anos: são R$ 2,3 bilhões desde 1999.

Sem falar nas irregularidades.

Tem dinheiro para complementar renda de professores, o que é proibido por lei.

Tem recursos para contratar consultorias, como a de Luís Lima, da Intercorp, e burlar a lei de licitações.

O exemplo da Finatec deve estar sendo reproduzido em todo o país. ÉPOCA - Qual será o proveito da CPI das ONGs?

Colombo - Com o aprofundamento das investigações, será possível criar um novo marco regulatório, principalmente voltado à fiscalização das ONGs.

Por exemplo: uma prefeitura é fiscalizada pela câmara de vereadores, tribunal de contas, tem de seguir a lei de licitações.

E as ONGs?

Não são fiscalizadas por ninguém.

O governo também não cobra o resultado do seu trabalho.

E isso ajuda no desvio de recursos. ÉPOCA - A CPI deverá ser prolongada?

Colombo - Acredito que sim.

O término previsto é para o dia 12 de maio.

Mas depois que chegarem os resultados das quebras de sigilo, deveremos cruzar as informações e isso demanda tempo.

Mas pretendemos finalizar o trabalho da CPI ainda no primeiro semestre.

Estamos em ano eleitoral e ficará difícil tocar uma CPI no segundo semestre.