Editorial da Folha de S.
Paulo de ontem Já surgem imitadores da estratégia usada pela Igreja Universal do Reino de Deus de manipular brechas do sistema judicial com a intenção de intimidar a imprensa.
O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, enveredou pelo mesmo caminho ao anunciar uma ofensiva processual contra esta Folha e o diário carioca “O Globo”.
Nas petições assinadas por adeptos da igreja em juizados espalhados pelo país, há uma tentativa, embora canhestra, de dissimular seu verdadeiro propósito.
A Força Sindical, a julgar pela espantosa desfaçatez de seu líder, não se preocupará em esconder a orquestração. “Estou fazendo apenas 20.
Se não parar, vou fazer de 1.000 a 2.000 ações contra eles no Brasil inteiro”, afirmou o pedetista. “A Igreja Universal vai ser fichinha”, completou.
Se ainda resta dúvida sobre a má-fé que anima essa ameaça de guerra processual, Paulo Pereira da Silva contribui, mais uma vez, para esclarecer completamente os fatos: “Meu negócio é dar trabalho para eles.
Não é nem ganhar. É só para eles aprenderem a respeitar as pessoas”.
Esse novo “trabalhismo” do presidente da Força pretende silenciar reportagens que -tendo apurado indícios de favorecimento e superfaturamento no destino de recursos públicos para qualificar mão-de-obra- citam o seu nome e o da central sindical que dirige.
Nem Pereira da Silva nem a Força Sindical são beneficiários imediatos dos convênios investigados por reportagens desta Folha, o que sempre ficou claro nos textos.
Mas a publicação dos elos dessas entidades, seja com a Força Sindical, seja com o PDT -bem como dos vínculos de Pereira da Silva com a central e o partido-, é de notório interesse público.
Uma confederação flagrada cobrando valores astronômicos para treinar pessoal é ligada à Força e pretende executar parte do trabalho no mesmo endereço da central.
O Ministério do Trabalho, chefiado pelo pedetista Carlos Lupi, destinou a 12 organizações ligadas ao PDT quase a metade da verba para treinar jovens, entre 30 de novembro de 2007 e 10 de janeiro de 2008.
A Força aparece como avalista de três entidades a ela relacionadas -duas situadas no endereço da central- que participam de uma estranha triangulação para obter contratos públicos.
Como é praxe do jornalismo praticado pela Folha, autoridades e entidades relacionadas aos convênios foram procuradas para que manifestassem a sua versão dos fatos.
Seus argumentos foram publicados com o devido destaque.
Mas é evidente que o líder da Força Sindical não está interessado em participar de um debate a respeito do assunto.
Sua intenção é intimidar veículos e jornalistas com a novíssima chicana da praça, a multiplicação de petições.
Ao explicitar seu objetivo, no entanto, Paulo Pereira da Silva dá, sem que o queira, uma contribuição importante para que a Justiça se imunize contra tentativas semelhantes de manipulação.
Está sob ataque o direito do cidadão de conhecer a verdade.