Por Edílson Silva “Eu tenho um sonho…”, Pastor Martin Luther King. “Sonho que se sonha junto é realidade”, Dom Helder Câmara. “Sonhos, acredite neles”, Lênin.
Foram sonhos que motivaram a vida e a luta daqueles que ao longo da história foram transformando nosso mundo.
Sem acreditar e lutar por um sonho, somos vítimas fáceis do conservadorismo, resignando-nos diante do mundo como ele está.
E o mundo não está bem.
Nós temos um sonho para Recife, o sonho de que uma outra cidade é possível.
Em nosso sonho, vivemos uma verdadeira revolução político-cultural na cidade.
Esta revolução, para acontecer mesmo, passa pela educação, cultura, esportes e lazer.
A juventude tem papel destacado nesta revolução.
Vejo as escolas municipais, centradas no ensino fundamental, como a face mais sentida do poder público municipal nas comunidades.
Não vejo escolas imponentes, com grandes estruturas.
Vejo escolas modestas, mas com tudo direitinho, seguras, com salas arejadas, bem pintadas, boa iluminação, limpas, bem cuidadas.
Seriam como aquelas aconchegantes casas tão comuns nas periferias.
Simples, mas bem cuidadas e com um calor humano que faz toda a diferença.
As escolas seriam suficientes para todos e próximas dos alunos.
O ensino seria em período integral, para todos, inclusive nas creches.
Assim, a formação das nossas crianças e jovens cidadãos seria mais ampla e completa, e as mães e pais poderiam deixar seus filhos em segurança e bem cuidados enquanto se dedicassem ao trabalho, estudo ou outras atividades.
Todos os alunos e crianças teriam alimentação suficiente e de boa qualidade enquanto estivessem sob os cuidados da escola.
Dois nobres sonhadores que já não estão entre nós devem estar gostando deste artigo: Leonel Brizola e Darcy Ribeiro.
Sigamos no sonho.
Vejo salas com menos de trinta alunos por turma, assim como o espaço físico vital de cada aluno em sala de aula respeitado.
Vejo todas as crianças tendo informática no currículo, com aulas práticas em laboratórios.
Vejo professores e professoras engajados na missão de ensinar e cuidar das nossas crianças e jovens.
Sem esse engajamento, não vejo a revolução almejada.
Mas não vejo engajamento se os próprios professores continuarem precisando trabalhar três turnos para ter uma vida minimamente digna.
A prefeitura não pode tratar os professores e professoras como apenas mais um segmento do serviço público municipal.
Os educadores são, nesta revolução, vetores fundamentais da transformação, e precisam de melhor tratamento, o que significa uma remuneração compatível com a missão nobre que lhes confiaremos.
Vejo cada escola com uma biblioteca pública, construída com recursos públicos, mas também com campanhas de doação organizadas pela própria comunidade, para que o caráter de biblioteca popular também esteja presente.
Tudo bem simples, mas suficiente para dar condições de nossas crianças, e também o conjunto da comunidade, adquirirem o saudável e importante hábito da leitura.
A escola municipal que sonhamos, portanto, não é nada super-moderno, futurista, caro e inatingível, mas já seria bem superior a de hoje, com insuficiência de vagas, com cerca de 10% dos responsáveis por salas na condição de estagiários, com 50% das escolas sem nenhuma área de recreação, 58% das salas superlotadas, 88% sem quadras esportivas, 67% sem bibliotecas, 61% sem salas de professores, 82% sem nenhum espaço, ou espaços inadequados, para merenda. (dados do Dossiê da Educação no Recife - SIMPERE – Sindicato dos Professores da Rede Municipal).
Mas nós sonhamos um pouco mais.
Vejo jovens das camadas populares organizados em projetos de animação cultural e esportiva, remunerados com bolsas pela prefeitura, atuando em cada bairro da cidade, utilizando as escolas municipais como ponto de apoio.
Esta idéia não é nova.
Um projeto semelhante já foi tentado pela atual gestão da Prefeitura do Recife, mas o objetivo estratégico era perpetuar um projeto de poder, transformando jovens cheios de sonhos e energia em potenciais cabos eleitorais.
Jamais daria certo, como não deu.
Vejo uma política pública de animação esportiva e cultural contando com equipamentos adequados de trabalho.
Fartas quadras esportivas, áreas de recreação e lazer, pequenos tablados nas comunidades, pequenos teatros em pólos estratégicos da cidade, escolas de circo, estúdios de gravação, oficinas de música, e tantas outras coisas baratas e legais que podem fazer toda a diferença para a nossa juventude.
Vejo estes animadores agitando nossa juventude em ginásios poliesportivos, não tão imponentes, mas minimamente modernos, estrategicamente distribuídos pela cidade, lotados de jovens.
Vejo a juventude praticando muito esporte, desde novinhos, várias modalidades, preparando-se para as muitas competições organizadas pela prefeitura.
Uma pequena ilha no Caribe já tentou isto, e deu certo, transformando-a numa potência esportiva mundial.
Nos ginásios poliesportivos teríamos alimentação garantida aos que se dedicassem às atividades esportivas com regularidade.
Profissionais qualificados acompanhariam e orientariam os jovens e as jovens atletas.
Vejo a prefeitura garantindo o passe-livre no transporte municipal, para estudantes e para a juventude que participa com regularidade das atividades esportivas e culturais.
Vejo os jovens mais destacados participando de programas especiais de treinamento e recebendo incentivos diferenciados, para representar a cidade em competições e apresentações.
Neste ambiente, não vejo muito espaço para o recrutamento de jovens para drogas e violência.
Com os pés bem plantados no chão, sabemos que esse nosso sonho, por mais humilde e barato que seja, para se realizar precisará de uma revolução na administração municipal, que se encontra estruturalmente seqüestrada por interesses conservadores.
Exigirá elevar o nosso sonho à condição de política pública, com metas estratégicas de curto, médio e longo prazos, a serem executadas por mais de uma gestão.
Mas acreditamos muito em nosso sonho e mais ainda no conjunto da nossa sociedade.
As parcelas mais empobrecidas da cidade também sonham com isto.
A classe média da cidade, por exemplo, diante da opção de fazer este investimento real no futuro ou embelezar a cidade, com calçadões, parques caros, assessorias milionárias, ficaria com a segunda opção.
Entenderão que a segunda opção pode esperar, mas a primeira, não.
No eventual comando da Prefeitura do Recife, desafiaremos os contrários a esta proposta a um debate público, de fôlego, profundo, na Câmara, nas comunidades, nas entidades representativas da sociedade civil, nos conselhos, com a imprensa.
Ao final de um sério e democrático debate, que certamente acrescentará mais e melhores propostas à idéia original, não ficaremos reféns de conchavos no legislativo.
Chamaremos a sociedade a se pronunciar, via plebiscito, com todos os eleitores do Recife.
Não temos dúvidas que a vitória será do avanço do processo civilizatório em nossa cidade.
Então, é preciso começar, querer fazer, é preciso priorizar nossos sonhos de verdade, pois nossa cidade não suporta mais esperar.
O nosso compromisso é começar esta revolução, e lutar para levá-la até o final.
Vale a pena tentar.
Vale a pena sonhar.
PS: Presidente do PSOL/PE, é pré-candidato à Prefeitura do Recife em 2008.