Por Jayme Asfora Desde 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher.
A origem da comemoração, no entanto, nos remete ao ano de 1857, quando, em 8 de março, as operárias têxteis de uma indústria de Nova York entraram em greve ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução da carga horária de 16 horas por dia para 10 horas.
Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde aconteceu um incêndio e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1646, em Pernambuco, as mulheres que viviam na comunidade de Tejucupapo - uma vila formada por agricultores e pescadores - próxima ao município de Goiana - conquistaram o tratamento de heroínas por terem, ao lado dos poucos homens que ficaram no vilarejo e com as armas que dispunham - chuços, pedaços de pau e até água fervente - repelido 600 holandeses que tentaram conquistar o local.
Seja em Nova York ou em Goiana, as mulheres - sempre que lhes foi permitido - mostraram a força de sua natureza e a capacidade de enfrentar as piores batalhas.
No entanto, às vésperas de celebrarmos mais um 8 de março, é preciso relembrar que Pernambuco - a terra das heroínas de Tejucupapo - é também o Estado com um dos maiores índices de violência contra a mulher do País.
Somente este ano, até o último dia 5 deste mês, 60 mulheres já foram assassinadas. É um número alarmante, ainda mais se levarmos em conta que, boa parte desses crimes, acontecem dentro do próprio lar e são cometidos pelos maridos e companheiros dessas vítimas.
Já passamos do tempo em que as mulheres precisavam ficar caladas para não morrerem quando agredidas pelos homens.
Mas hoje o que precisamos é de uma estrutura mais condizente com o elevado índice de violência contra mulher no Estado.
Essa questão da infra-estrutura passa, por exemplo, pela falta de um número maior de delegacias especializadas. É por demais preocupante o fato de as delegacias da Mulher de Caruaru e Petrolina só funcionarem em dias úteis.
Ou seja, se agredidas em feriados ou finais de semana, essas vítimas não têm a quem recorrer, inclusive com a possibilidade de que as provas da agressão sejam destruídas.
O atendimento à mulher vítima de violência passa também pela constituição de um quadro de defensoras ou defensores públicos que sejam especialistas nesta área.
No entanto, se a própria Defensoria Pública passa por graves dificuldades estruturais como um todo, como fazer para que esse atendimento especial seja garantido?
Em Pernambuco, há mais de 90 comarcas sem nenhum representante desta Instituição que visa, entre outras nobres funções, oferecer assistência jurídica às mulheres que não pagar um advogado.
Essas medidas, se tomadas, poderão homenagear as mulheres pernambucanas de uma forma muito mais concreta do que a entrega de uma flor ou de uma placa.
Não que elas não os mereçam.
PS: Jayme Asfora é presidente da OAB-PE e escreve no Blog de Jamildo às quintas-feiras