Por Carlos Eduardo Cadoca Outro dia resolvi tomar um café na Rua do Bom Jesus para fazer hora até um outro compromisso que tinha ali por perto.
Aproveitei para conferir a rotina da rua em um dia comum.
Um dia de semana.
Era uma sexta-feira à tarde.
Andei um pouco de um lado para outro e acabei sem tomar o meu café.
O que vi deu pena.
A rua perdeu completamente a graça.
Perdeu o charme.
Perdeu praticamente todos os bares e restaurantes.
Um dos últimos “heróis da resistência” é o Galerias, que, segundo consta, enfrenta sérias dificuldades para se manter.
O mais grave: a rua perdeu praticamente todo o investimento que recebeu para se transformar na âncora da revitalização do Bairro do Recife.
A Rua do Bom Jesus tinha a cara de uma outra administração.
E isso a condenou. É assim, lamentavelmente, que acontece em praticamente todas as esferas de governo.
E no Recife não foi diferente.
Renegaram, em quase oito anos, tudo de positivo que foi feito nas administrações anteriores naquele ponto da cidade.
O sopro de sobrevivência só é sentido na Bom Jesus no Carnaval, quando volta a ficar lotada, alegre, colorida.
Como nos bons tempos.
Mas ela não foi projetada só para quatro dias no ano.
Foi projetada para ser um espaço da cidade, uma opção turística e de animação cultural permanente.
O que deu muito certo, até ser completamente abandonada.
Quem tinha o prazer de ir à Rua do Bom Jesus com a família, com o namorado, com a namorada, com turistas ou com amigos tomar um chope, bater papo ou simplesmente ir para lá jogar conversa fora, não queria nem quer saber de rivalidades políticas.
O que conta não é se o projeto foi feito por Maria, Antônio ou José.
As pessoas se importam com a obra.
Com o investimento que vai render satisfação e bem-estar, gerando emprego e renda.
A Bom Jesus era, sim, motivo de orgulho para o recifense.
Quem não lembra disso?
A rua dava gosto mesmo.
Tinha virado a página da degradação e tomado um banho de revitalização.
Não por acaso, foi notícia no país inteiro.
Dividiu holofotes da mídia nacional com outros projetos de revitalização urbana de grande sucesso no Brasil, como o Pelourinho de Salvador.
Nada disso, como se vê, foi levado em conta.
Ora, por que desmanchar o que está certo só porque foi outra administração que fez?
Por que jogar no lixo o dinheiro público?
Isso não faz sentido.
As administrações modernas são concebidas de outra forma.
Têm a cultura da continuidade.
Quem pára tudo para depois fazer tudo outra vez, em outro lugar, ou simplesmente não fazer absolutamente mais nada, pratica um desatino. É inaceitável o que aconteceu no Recife Antigo.
Tenho um compromisso definido, que já tornei público, mas reitero agora e quantas vezes forem necessárias.
O que estiver dando certo na atual administração será mantido.
O que não deu certo, eu me proponho a fazer melhor.
E o que não foi feito eu vou concentrar todos os esforços para fazer.
Não tenho absolutamente nenhum problema em reconhecer alguns pontos positivos nesta segunda administração João Paulo, como o corredor leste-oeste.
Também é com muita tranqüilidade que digo que a primeira administração dele foi muito fraca.
O Recife é uma cidade complexa.
A gestão para ser eficiente tem que ter foco.
Tem que ter rumo.
O trabalho de uma prefeitura tem que ser articulado e contínuo, independente das cores partidárias.
Está mais do que na hora de aposentar no Brasil a tese da reinvenção da roda.
Ninguém precisa desmanchar o que está feito, funcionando e dando certo só para tentar mostrar serviço.
Para ser o “pai da idéia”.
Quem não preza pela continuidade administrativa também não preza pelo dinheiro público.
E, convenhamos, essa conta não pode cair mais uma vez no colo do contribuinte.
PS: Cadoca é deputado federal e um dos pré-candidatos a prefeito do Recife pelo PSC.
Escreve neste espaço a pedido do blog na série sobre os destinos do Recife com as eleições de 2008.