Por Raul Jungmann* Durante o franquismo, Barcelona, os catalães e sua cultura foram longa e duramente sufocados.

Por diversas vezes o regime tentou impor intervenções culturais e urbanísticas que foram prontamente bloqueadas pela resistência da população local, organizada em sociedade de vizinhança.

Com o fim da ditadura, e o retorno dos governos democráticos, Barcelona inicia um círculo virtuoso que se estende até o presente, aonde um amplo consenso entre elites, governos e comunidade, irá elevá-la à condição de exemplo internacional de intervenção e remodelação urbanística de sucesso mundial.

O que tornou isso possível?

Sem duvida, a já aludida democratizações e o amplo consenso alcançado.

Porém, e após a explosão e euforia dos anos oitenta, tendo por eixo a recuperação da identidade regional e a relativa autonomia alcançada, Barcelona definiu um rumo para si, visando se inserir entre as cidades referenciais do mundo, em processo acelerado de globalização.

De uma cidade em franco estágio de deterioração, com problemas graves de delinqüência juvenil, altas taxas de desemprego e degradação dos seus espaços públicos e históricos, a capital catalã tomou no início dos anos 90 decisões determinantes, ancoradas no seu passado histórico, porém voltadas para o futuro.

Dentre outras, estas foram as decisões: · Definiu, claramente, dois eixos prioritários: serviços (sobretudo os relacionados à tecnologia) e turismo.

Realizou parcerias público-privadas, em campos tradicionais ou não, com base num inovador modelo de gestão, os chamados consórcios de gestão.

Ampliou os espaços públicos – museus, praças, salas de espetáculos, equipamentos esportivos etc – para dar suporte aos setores de turismo e serviços.

Requalificou áreas degradadas, com base em parcerias público-privadas.

Em 1999, Barcelona completou e aprofundou essa visão estratégica, adotando em definitivo a cultura, em sentido amplo, como sua principal vantagem comparativa e utilizando como slogan ser a “cidade do conhecimento”.

Hoje, em que pese uma nova onda de imigração e problemas decorrentes do seu próprio sucesso, vão longe os dias de cidade problema, anterior aos anos 80.

Que temos, nós do Recife, a aprender com essa trajetória, em que pese as inegáveis diferenças existentes?

Em primeiro lugar, que se pode, sim, reverter uma situação de estagnação e problemas, para uma outra, de sucesso e projeção.

Em segundo lugar, que processos amplos de mudança levam tempo e não coincidem com a temporalidade da política, condicionadas pelo tempo dos mandatos.

Portanto, essa ação requer uma ampla mobilização social, formação de consensos temporais e uma grande capacidade de liderança do setor público, além da predisposição de estabelecer parcerias de médio e longo prazo com setores privados e com a sociedade organizada.

Por fim, essa estratégia requer algo que vimos repetindo desde 2004, cada vez com mais convicção, cada vez com dados mais contundentes: precisamos ter um rumo!

Assim como Barcelona, o Recife precisa apontar o seu rumo.

A mudança não será alcançada com obras pontuais, ações clientelistas e intervenções fragmentárias.

Será alcançada com um projeto estratégico.

Um projeto de cidade saudável e competitiva. *Deputado federal e pré-candidato a prefeito do Recife pelo PPS, escreve às terças para o Blog dentro da série “Recife 2008.

Debate com os prefeituráveis”.