Por José Roberto Berni e Silvino Ferreira Jr.* Recebo um e-mail de Obama todo dia.
Todo dia ele me pede um dólar, que nunca dou.
Ele fica tentando me convencer com uma contagem regressiva para alcançar US$ 1 milhão: “Venha fazer parte da história”.
Obama arrecada US$ 1 milhão por dia com essa conversinha!
Assim, com o apoio de uma fantástica campanha pela internet, na terça-feira, o senador Barack Obama pode ser confirmado candidato do Partido Democrata e provável futuro presidente dos Estados Unidos.
Os sites de Barack Obama e de Hillary Clinton são grandes portais interativos.
O de Hillary abriga seis comunidades e sites específicos dirigidos a vários segmentos da sociedade.
A abertura do portal de Obama é uma foto dele com a mulher e os dois filhos, como as de família antigamente. É ainda maior e melhor do que o da concorrente: abriga cerca de 15 sites, 16 comunidades, cinco blogs oficiais e uma loja que vende até bolas de árvore de natal (três por US$ 4,50, na liquidação).
A coisa mais interessante do site do republicano John McCain é um DVD do filme Faith of my fathers, biografia de um piloto que ficou cinco anos preso no Vietnã: ele mesmo, o candidato.
Um filme de herói americano, forjado na guerra, preparado para liderar.
Tudo isso por módicos US$ 50. É assombroso que os republicanos não tenham apresentado candidatura mais consistente.
McCain encarna o inconsciente coletivo de um povo que se orgulha de ser guerreiro, mas isso é pouco neste novo mundo digital.
No dia 17 de janeiro, o Google abriu o seu primeiro escritório em Washington, onde trabalham 25 pessoas para atender exclusivamente as novas demandas da campanha eleitoral.
O Google adaptou duas de suas ferramentas para atender exclusivamente os candidatos e criou um grupo de profissionais para fortalecer suas campanhas na rede.
No caso de Obama, grande parte da mensagem foi direcionada para blogs e sites freqüentados por jovens, o que gerou a Obamania na web.
Segundo J.
P.
Greenberger, chefe do novo escritório, o Google está introduzindo novos instrumentos na esfera política: “Nosso trabalho é mostrar que os consumidores mudaram e o consumo de mídia também”.
Sites de relacionamento como o Facebook e Facebook são instrumentos eficazes para mensurar o sucesso de um candidato e de sua plataforma política.
O You Tube também permite uma rápida avaliação do sucesso de uma mensagem em vídeo, não apenas pelo número de acessos, mas também pela análise dos comentários postados.
Pela paixão e discussões que desperta.
O clipe Yes, we can é o maior sucesso da campanha eleitoral e isso não se deve apenas à presença de artistas famosos, mas à sua divulgação no You Tube.
Divulgação que não custa nada ao bolso do candidato e que se espalha entre as comunidades de blogueiros, sites de relacionamento e torna o clipe um “viral” campeão.
Renata Pagliuso é redatora em uma agência de marketing viral, a Joahnnes Leonardo, em Nova Iorque.
Numa definição rápida, Renata diria que marketing viral é feito com idéias simples, que colam, que confiam no espectador como meio.
O viral tem que ter força e alguma verdade, senão não vinga.
Mas viral não é só vídeo.
Pode ser uma idéia bem sacada, ou um jogo, ou qualquer coisa que se propague sem muita maquiagem.
O sonho de todo candidato é ter um viral de sucesso na campanha.
Candidatos a prefeito e vereador nas próximas eleições já estão usando a internet para fortalecer seus nomes, criar redes de relacionamento, formar militância.
Ninguém pode fazer campanha antes de julho, mas a legislação eleitoral não faz referências à internet.
Como tudo que não é proibido é lícito, a campanha já começou.
O número de computadores nas casas dos brasileiros dobrou em três anos.
Hoje existem 22 milhões de brasileiros ligados na web.
Assim é que, em breve, os donos dos currais eleitorais terão que ter blogs.
Currais não, redes de relacionamento.
Teremos redes formadas por pessoas do bairro, da escola, da moçada, dos veteranos do Corintinha da Vila Monumento.
Ainda estamos engatinhando, mas em 2006 o You Tube brasileiro serviu para postar vários materiais de ataque.
A internet também ajudou os candidatos a candidato aumentar sua base de doadores, permitindo o acesso direto ao doador de pequenas quantias.
Nos Estados Unidos, a doação via internet funciona como um investimento que se faz na bolsa de valores e, por isso, reflete o momento da disputa.
Se o candidato está bem, as doações sobem.
Se o candidato vai mal, como uma ação desvalorizada, ninguém quer arriscar.
Agora, por exemplo, Hillary Clinton está com problemas com os doadores da campanha dela.
Foram mais de US$ 100 milhões arrecadados e o dinheiro praticamente acabou.
O que eles estão questionando é se alguém que não soube administrar essa grana pode administrar as finanças de um país.
Lá, mais ainda que cá, a guerra de acusações, é pesada.
Semana passada, uma foto de Obama, vestido de muçulmano e divulgada através da internet, gerou muita polêmica, com a equipe de Obama acusando a adversária de jogo baixo.
Aliás, muitos ataques de Hillary têm se voltado contra ela, num efeito bumerangue que os americanos chamam de “backfire”.
Muito do sucesso de Obama se explica pela capacidade dele, e da sua equipe, de captar e explorar o potencial dessa nova ferramenta do marketing político: a internet.
Talvez por isso eu ainda esteja esperando por um e-mail da Hillary que, muito provavelmente, não vem. *José Roberto Berni e Silvino Ferreira Jr. são redatores políticos.
Berni esteve à frente da equipe de TV de Mendonça Filho na campanha ao governo do Estado em 2006.
Mas por pouco tempo.
Foi substituído antes mesmo do guia começar, por divergências com o comando da campanha.