Por Carlos Eduardo Cadoca Ando muito pelo Recife.

Gosto de fazer política na rua.

E essas minhas andanças me dão acesso a algumas informações que considero importantes.

Já dá para sentir que o povo sabe o que quer do novo prefeito a ser escolhido este ano.

As pessoas elegeram suas prioridades.

Cada um, afinal, sabe exatamente onde o sapato aperta.

O que escuto na rua, nos bairros onde chego e nas comunidades é que a cidade está com muito medo.

A violência é a preocupação número um do recifense.

O medo também está refletido em uma série de pesquisas que encomendamos para identificar o que a população espera do novo administrador.

Há uma expectativa enorme para que o combate à violência se dê de forma decidida e eficaz.

De tal modo que nos ajude a sair da triste e humilhante condição de uma das cidades mais violentas do país.

Na última pesquisa, feita em outubro de 2007, a violência foi apontada como maior problema por 59% dos 800 entrevistados.

As outras quatro prioridades identificadas são emprego, saneamento básico, educação e saúde.

A conclusão a que se chega, portanto, ouvindo as pessoas e analisando as estatísticas, é a de que a Prefeitura foi omissa na questão da segurança, apesar das enfáticas promessas em contrário, feitas à época das duas campanhas que levaram ao poder municipal as forças políticas que hoje aí se encontram.

A Prefeitura divulga com alarde as obras que está realizando, mas vai fechar essa gestão de oito anos com muitos débitos sociais.

Basta ver os índices de educação que são terríveis no município.

O Brasil tem historicamente um desempenho pífio e o Recife é o “lanterninha” entre as capitais brasileiras.

A partir do próximo dia 3 de março, estaremos reunindo técnicos, especialistas em diversas áreas e representantes da sociedade para consolidar propostas que vamos apresentar à cidade dentro de diretrizes já definidas.

Destacamos, aqui, três áreas: segurança, educação e emprego.

Na abordagem da questão do combate à violência, o primeiro cuidado que se deve ter é o de evitar o transplante mecânico para cá de experiências exitosas em outros países.

Elas são importantes como referência e objeto de estudo, mas não devem ser alardeadas como panacéia para todos os nossos males.

A insistência com que às vezes se faz tal alarde pode criar nas pessoas a expectativa de que as soluções encaminhadas lá fora possam ser de imediato aplicadas aqui.

O que é uma perigosa ilusão.

Porque as mudanças efetivas e vitoriosas em qualquer dos paises que sejam tomadas por inspiração elas terão sido conseqüência de transformações globais, verificadas particularmente na estrutura policial-judiciária desses países, compreendendo ações e implantação de políticas que ultrapassam em muito os limites cabíveis aos municípios brasileiros.

O município deve atuar.

Não pode se omitir.

A responsabilidade constitucional, de fato, é do Estado, mas o prefeito deve começar a trabalhar com os instrumentos que tem em mãos. É possível aproveitar melhor o potencial da guarda municipal.

Ela pode ser treinada para trabalhar em sintonia com a polícia.

Não assumindo efetivamente esse papel, mas atuando como um auxiliar importante.

Existem outras ações que são relativamente simples e que podem fazer uma grande diferença.O Recife é uma cidade muito escura.

Isso favorece o clima de insegurança nas ruas. É preciso resolver o problema.

O trânsito caótico também se transformou em uma armadilha.

A qualquer hora do dia.

Em qualquer lugar da cidade.

Parar no sinal hoje é se expor a uma situação de risco.

A tecnologia pode ajudar a cidade a andar mais rápido, minimizando congestionamentos e, portanto, a exposição das pessoas à ação de bandidos.

Mas o que o município tem que executar, para ajudar de verdade no combate à violência, é um complexo de políticas sociais eficazes.

Planejadas a curto, médio e longo prazo, articuladas entre si, e trazendo resultados que possam ser efetivamente mensurados. É fundamental, sobretudo, trabalhar em fina sintonia com o Estado.

O combate à violência exige a criação de um grande pacto, envolvendo todas as esferas de governo e a sociedade.

Na questão da educação, defendemos a inserção do município na luta para estabelecer nesse país o que o senador Cristóvão Buarque classifica como “a única revolução possível”, quebrando lanças para obter no plano nacional um financiamento digno e à altura do problema que se está enfrentando.

Aqui não cabem tergiversações.

Ou se parte para uma decidida aplicação do PIB nacional na área da educação – muito além dos pífios 4,7% atuais – ou se estará sempre fazendo de conta que cuidamos do problema, mas obtendo resultados catastróficos.

Como os que foram revelados em recente pesquisa da UNICEF.

Enquanto isso é apenas uma aspiração, uma bandeira de luta, cabe aos governantes municipais cumprir seu papel no que lhes compete. É preciso, por exemplo, alfabetizar de verdade todas as crianças do fundamental I, que vai da 1ª a 4ª séries, desencadeando um arrojado programa de capacitação de professores, associado a um sistema de remuneração que premie a produtividade nas escolas e estimule no corpo docente o entusiasmo necessário ao êxito na espinhosa missão de ensinar.

Já o desemprego é uma questão estrutural.

O equacionamento desse problema depende do dinamismo econômico e também da qualificação dos trabalhadores.

Como mostram os resultados recentes apresentados pelo SINE, parte importante das vagas de emprego colocadas à disposição pelas empresas não foi ocupada por falta de candidatos qualificados.

Voltamos novamente à educação.

O município pode dar sua contribuição para resolver essa problema ofertando a formação profissional necessária.

Esse também será um foco que pretendemos trabalhar.

Promover o crescimento econômico é outra fonte de solução do desemprego.

Precisamos cuidar das nossas naturais vocações econômicas.

O Recife já se destaca por ser um pólo moderno de serviços médicos, de cultura e entretenimento, de informática, de turismo, de esportes e de comércio. É necessário apoiar e ampliar essas atividades.

Mas é preciso também saber atrair novos investimentos.

Divulgar nossas potencialidades.

Disputar com outras cidades os capitais privados disponíveis.

Lembrar que o Brasil vai sediar daqui a pouco uma Copa do Mundo e o Recife precisa ocupar o papel exponencial que lhe compete, no curso do evento.

Girar, finalmente, com decisão e firmeza, a roda da nossa economia.

São idéias colocadas para discussão e debate, a serem aprofundadas em iniciativas como essa, que o Blog do Jamildo e o Sistema Jornal do Commércio em boa hora colocam à nossa disposição.

Sei que os problemas são graves.

Mas costumamos cultivar, sem ingenuidade, o otimismo quanto a nossa capacidade de enfrentá-los e resolvê-los.

Sou otimista, sim, porque confio na longa experiência acumulada em anos e anos de gestão da coisa pública e porque acredito que quando todos trabalham juntos – a população e os gestores públicos - os desafios são superados.

Sou otimista, enfim.

Até porque o pessimista crônico já começa perdendo.