Por Isaltino Nascimento Muito se falou sobre Fidel Castro após sua renúncia à presidência de Cuba, na última terça-feira (19 de fevereiro).

Em todo o mundo, o que mais se destacou sobre o líder que por quase meio século desafiou o poderio dos Estados Unidos foi a sua pecha de tirano.

Enquanto simpatizantes, também em várias partes do planeta, exaltavam-no como herói.

Esse debate ainda vai durar muitos e muitos anos, com posições apaixonadas de ambos os lados.

Aqui acrescento a minha visão sobre o que considero o legado de Fidel Castro para a humanidade.

Apesar de toda crise democrática vivenciada, após tomar o poder, em 1959, Fidel Castro não apenas resgatou a ilha do domínio dos EUA, como a transformou em um local com os melhores serviços de educação e saúde pública do Terceiro Mundo.

E isso não há como contestar.

Assim, Cuba, que antes era um verdadeiro prostíbulo dos EUA, com jovens e idosos explorados, passou a ter dignidade.

Em Cuba há problemas sérios causados pelo embargo norte-americano, mas não se pode dizer que haja desigualdades tão gritantes como as existentes no vizinho Estados Unidos ou, como aqui mesmo, no Brasil.

Desigualdades que geram ilhas de pobreza tão cruéis que fazem existir gente (aqui e nos EUA) comendo lixo e vivendo em extrema degradação, enquanto outros moram em fortalezas e usam helicópteros como via de transporte.

Tudo isso gerado pelo “sagrado” capitalismo.

Fidel fincou seu nome na história mundial a partir do momento que resolveu investir em saúde, educação e esportes.

Com isso, obrigou outros países da América Latina a repensarem sua forma de tratar a população.

Até mesmo os Estados Unidos foram obrigados a reformularem seu mundo capitalista e passar a trabalhar com políticas voltadas ao bem-estar social.

Reputo isso à fibra do homem que, aos 32 anos, desceu a Serra Maestra para derrubar o ditador Fulgencio Batista, e durante mais de quatro décadas foi um zeloso guardião do comunismo em Cuba.

Nem mesmo o colapso da União Soviética, em 1991, abalou Cuba, que superou uma de suas piores crises econômicas graças à aliança estratégica com o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Ninguém melhor do que o próprio Fidel para avaliar sua passagem pelo comando de Cuba: “Cometi erros, mas nenhum estratégico, simplesmente tático…

Não tenho nenhum átomo de arrependimento do que fizemos em nosso país”, afirmou recentemente.

Com a saúde precária desde 2006, quando se submeteu a uma cirurgia para conter uma hemorragia intestinal, Fidel ainda dá demonstrações de aguço estrategista.

Sua última jogada contra os Estados Unidos, que durante décadas tentou derruba-lo ou elimina-lo com ajuda da CIA, foi amarrar a sucessão ainda em vida.

Aos 81 anos, conseguiu fazer seu irmão Raúl, de 76 anos, novo chefe de Estado cubano, alimentando ainda mais a polêmica sobre seu modo de governar.

No melhor estilo de quem pode ostentar o título de ser a última lenda viva da esquerda revolucionária.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.