Por Edílson Silva* Peço licença aos idealizadores do Fórum Social Mundial para tomar emprestada sua idéia-força, que trata da possibilidade real de transformação da nossa sociedade para melhor.

Um outro mundo é possível, sim.

E este novo mundo começa na cidade onde vivemos.

O PSOL, como parte do movimento socialista brasileiro, diagnostica que o conjunto de nossa sociedade está doente e que esta doença tem raízes profundas.

Portanto, no debate sobre os rumos da cidade do Recife, não nos confundiremos com oposições inconseqüentes, donos de verdades absolutas, que reduzem as soluções a fórmulas dogmáticas, tão fáceis quanto inúteis.

Também não cairemos na vala comum da fraude político-eleitoral tradicional, habitada pelos partidos e políticos que se revezam no poder mentindo e enganando a população, mantendo sempre a reprodução dos fatores que agravam a situação crítica de nosso povo.

O PSOL é um novo partido, que busca, junto com os setores sadios da sociedade, derrotar a velha política e edificar uma sociedade livre, democrática e justa.

A população do Recife vivencia e sente com mais força a violência e o desemprego como os seus principais problemas.

Segundo o Mapa dos Municípios 2008, Recife é a capital mais violenta do país.

Simultaneamente, sofremos, de forma dramática, com a falta de habitação e saneamento.

Falta também atendimento básico à saúde.

Segundo o Ministério da Educação, a educação em Recife é a pior entre as capitais brasileiras.

Parte significativa dos recifenses não tem acesso a transporte público.

Faltam políticas públicas para a juventude, para a melhor idade, para o meio-ambiente, para comunicação, enfim, a lista seguiria.

A situação da cidade está assim após sete anos de gestão do PT e do PC do B.

Os defensores da atual gestão dizem que a situação antes era pior.

E nisso concordamos com eles.

A gestão atual é menos pior que as imediatamente anteriores, razão pela qual partidos e políticos que já administraram a cidade não têm autoridade política para fazer uma oposição conseqüente.

São oportunistas, buscando retornar à teta, hoje dedicada a outras bocas.

A concordância acaba aqui.

Recife não pode se conformar com o título de campeã nacional em assassinatos e com o pior sistema de ensino entre as capitais brasileiras.

Recife não pode se dar por satisfeita com uma gestão absolutamente incapaz de colocar em prática sequer dinâmicas que busquem resolver os graves problemas sabidos por todos.

Recife precisa acreditar que outra cidade é possível.

Mas será possível, no âmbito do poder local, enfrentar problemas como violência, déficit habitacional, falta de saneamento, desemprego e tantas outras demandas já colocadas?

Sim, é possível.

Mas todas as soluções passam impreterivelmente por medidas que os grupos políticos que se revezam no poder têm verdadeiro pavor: transparência na gestão pública, participação e mobilização popular.

O combate à corrupção e à privatização da gestão pública está na essência da busca pela verdadeira democratização das instituições do Estado.

A esmagadora maioria dos políticos e seus partidos têm relações nada republicanas estabelecidas com grupos empresariais.

O objetivo destas relações é estabelecer parcerias público-privadas subterrâneas, de legalidade sempre duvidosa, sempre imorais e muitas vezes criminosas.

Quem já não ouviu falar em máfia do lixo?

Quem não sabe que empresários do setor de transportes coletivos têm relações íntimas com o poder público? É possível negar que a indústria da terceirização em áreas como limpeza e segurança, favorecendo cabos eleitorais e empresários amigos do poder, não é uma realidade?

E as empreiteiras, maiores financiadoras de políticos no Brasil, fazem-no por espírito público?

A lista poderia seguir.

Parar essas engrenagens não é uma tarefa fácil.

Pelo contrário, é uma tarefa não só dificílima, como também extremamente perigosa, porém imprescindível.

Prefeitos já foram assassinados por supostamente apenas tentar alterar a velocidade dessas engrenagens, vide Celso Daniel, ex-prefeito petista de Santo André (SP).

Mas o PSOL tem a coragem necessária para buscar desmontar estes esquemas.

Contudo, não basta coragem, é preciso ter força.

E a força está no povo e na sociedade civil organizada e mobilizada, no controle social implacável por parte da população.

Por isso, a transparência real e a participação e mobilização popular são condições “sine qua non” para alcançarmos patamares satisfatórios de solução para os problemas das populações em particular e da sociedade em geral.

Este ano a Constituição Federal de 1988 completa 20 anos, e os mecanismos de democracia participativa nela consagrados não passam de letra morta nas mãos dos nossos governantes.

Vamos nos valer destes mecanismos para proporcionar espaços de verdadeira participação popular, incentivando e dando plenas condições para o funcionamento dos conselhos, plenárias e conferências populares, assim como chamando a sociedade a se posicionar e decidir sobre temas de relevância estrutural para a cidade, através de plebiscitos e referendos.

Precisamos e vamos, neste sentido, ir além do insuficiente, e hoje fraudulento, orçamento participativo petista.

Mas as engrenagens da corrupção e da apropriação imoral dos recursos públicos têm dentro do serviço público extensões sofisticadas.

E estas também precisam ser combatidas.

A primeira medida a ser tomada é acabar imediatamente com os cargos comissionados, que são, em amplíssima maioria, agentes descompromissados com o serviço público e que cumprem a função de garantir em postos estratégicos o funcionamento da máquina de favorecimento aos amigos de quem está no poder.

Numa gestão ética e voltada radicalmente para servir à sociedade, não há, em regra, necessidade de cargos como estes a partir do 2º escalão.

Em algumas áreas, como saúde e educação, em que há um histórico e uma cultura de organização e participação popular, há a real possibilidade de também se extinguir o cargo de confiança no 1º escalão, estabelecendo, no lugar do secretário, conselhos gestores a partir de servidores de carreira.

Com a dinâmica de aprofundamento da transparência e da democracia na gestão municipal, desprivatizando a gestão, num processo alicerçado na mobilização e participação popular, abrem-se melhores condições para a solução de outras questões também fundamentais.

Recife é uma cidade que dispõe de recursos financeiros suficientes para tratar de forma distinta a questão da segurança pública, habitação e saneamento, saúde, educação, geração de emprego e renda, atenção aos direitos da juventude e idosos, por exemplo.

Mas as gestões que se revezam no poder têm outras prioridades.

Recife é a nona cidade mais populosa do país, uma das maiores metrópoles do Brasil, com uma tradição política e cultural fortíssima no cenário nacional, podendo e devendo utilizar esta força para influenciar politicamente na repactuação da relação dos municípios com a União, desamarrando as cidadesde compromissos, mesmo que indiretos, com a agiotagem oficial que sangra as finanças públicas na sua fonte.

Mas as gestões que se revezam no poder optam por acovardarem-se e fazer o jogo político que termina numa fila vergonhosa com um pires na mão.

Recife tem autoridade política para pautar no país o problema da favelização crescente das grandes cidades, um fenômeno mundial, o maior e mais explosivo problema da contemporaneidade, pois se relaciona de forma transversal com todos os principais problemas urbanos: habitação, saneamento, educação,saúde, meio ambiente, transporte, emprego e segurança pública.

Mas as gestões que se revezam no poder tratam a favelização como um fenômeno natural, como a seca, com a qual temos que aprender a conviver.

Sim, uma outra cidade é possível.

Para tanto, o Recife, com seu prefeito, não só como mero administrador, mas como líder político da cidade, com seu povo mobilizado, com a sociedade civil organizada, podem e devem ter outra atitude diante das forças conservadoras da cidade e do país.

O PSOL quer, humildemente, fazer parte desta construção. É este debate que queremos e vamos fazer com o povo recifense nestas eleições. *Presidente estadual do PSOL, escreve às sextas para o Blog dentro da série com os prefeituráveis “Recife 2008”.