Brasília - O custo do dinheiro no exterior é mais baixo do que no Brasil, ou seja, paga-se menos juros para pegar empréstimos.

Por isso, não valeria a pena o governo e as empresas pagarem toda a dívida externa.

A avaliação é da professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Maria Beatriz David.

Ontem (21), o Banco Central informou que o Brasil passou a ser credor externo, uma vez que as reservas internacionais e outros ativos, dinheiro aplicado, são maiores do que a dívida externa. “Hoje é mais barato pegar dinheiro lá fora do que pegar dinheiro aqui.

Por isso, mesmo com esse grau de reservas, não valeria a pena o governo brasileiro, nem as empresas, quitar tudo o que devem”, explicou Maria Beatriz, hoje (22), em entrevista à Rádio Nacional.

De acordo com a professora, é necessário atenção quanto à dívida interna do país. “Esse fato [o Brasil como credor externo] é bom, mas não significa que não temos mais dívidas.

O grande problema do país hoje é o equacionamento da dívida interna, ao contrário dos anos 80, quando o que pesava era a dívida externa”.

Para Maria Beatriz, o caminho para resolver o problema da dívida interna é diminuir drasticamente o nível das taxas de juros, “que é mais do que o dobro da taxa de juros do mercado internacional”. “Aquele sonhado país qualificado sem riscos depende também do equacionamento da dívida interna”, acrescentou, referindo-se à obtenção da avaliação de investment grade (grau de investimento), reconhecimento internacional baseado em melhorias dos indicadores socioconômicos.

A classificação é feita por agências de risco, depois de constatarem que o país oferece segurança aos investidores.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a transformação do Brasil de devedor para credor significa que o país tem agora um papel de protagonista no cenário internacional, porque acumula recursos, o que o torna mais próximo de obter a avaliação de grau de investimento.

Para o economista Raul Velloso, o país fez o dever de casa no que diz respeito ao setor externo, mas ele também ressaltou a importância de ajustes nas contas da administração pública. “Mas devíamos ter aproveitado essa maré mansa e fazer ajustes nas contas do governo.

O temor é que sejamos forçados a fazer alguma correção quando a situação externa estiver pior.

Uma coisa é, com sobra de caixa no seu bolso, fazer ajustes nos gastos da sua família, outra coisa é querer fazer o mesmo ajuste quando o seu caixa está apertado.

Aí tudo mundo na sua casa vai reclamar muito”.

Com a agência Brasil