Do Uol O novo ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, toma posse nesta quarta-feira (20) em um momento delicado, após a antiga ministra Matilde Ribeiro se demitir, envolvida no escândalo dos cartões corporativos.

Entretanto, a situação não abala o ministro que, em entrevista ao UOL News, afirmou ter grande admiração por Matilde e disse que vai continuar usando os cartões corporativos.

UOL News - Ministro, o senhor toma posse esta semana.

Quais são os planos à frente do novo cargo?

Edson Santos - Já existe todo um planejamento de trabalho na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.

Nossa pretensão é dar continuidade a estes programas e eu daria até uma certa ênfase à questão da agenda social quilombola que eu considero fundamental para resgatar a dignidade da população quilombola no Brasil.

UOL News - Qual será o foco deste trabalho?

Edson Santos - A agenda envolve uma série de medidas e vários ministérios, como o da Saúde e da Educação.

Efetivamente, a agenda visa oferecer condições dignas de vida para a população quilombola e a possibilidade de ascensão e inserção nas atividades econômicas no Brasil.

UOL News - O senhor toma posse no lugar da ex-ministra Matilde Ribeiro em um momento complicado e delicado em relação ao uso dos cartões corporativos.

Como é que o senhor vê esta crise toda?

Edson Santos - Primeiro eu acho que a ministra é uma pessoa idônea.

Eu tenho por ela um grande respeito e admiração.

Mas, reconhecido por ela, o erro cometido foi o uso do cartão no Free Shop, que acabou assumindo uma dimensão que inviabilizou sua presença à frente do ministério.

E quanto à questão do cartão corporativo em si, eu acho que isso está sendo objeto de tratamento pelo governo e pelo Congresso Nacional que está por instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar e propor medidas que normatizem o uso do cartão administrativo.

UOL News - Durante a entrevista coletiva que a ministra pediu demissão, ela alegou haver falta de estrutura na Secretaria e por isso gastou R$ 171 mil, principalmente em aluguel de carros e diária de hotéis.

O senhor vai tomar posse tendo de resolver esta situação.

A Secretaria tem estrutura para pagar estes gastos ou o senhor vai continuar usando o cartão corporativo?

O que será feito?

Edson Santos - Independentemente de estrutura, a administração pública usa o cartão corporativo.

A Presidência da República usa o cartão corporativo.

Então, acho que a questão da estrutura não explica totalmente o uso do cartão corporativo, porque é um instrumento para resolver as excepcionalidades da administração pública no seu cotidiano.

Eu acho que a partir de uma normatização, temos garantida uma transparência.

Hoje, o acesso que a mídia e a sociedade têm sobre o uso dos cartões é devido à transparência exposta pelo governo.

Esse é um ponto interessante da gente tratar.

Quanto à estrutura na Secretaria, somos um órgão novo, e precisamos discutir com o governo e o presidente Lula uma estruturação que atenda as necessidades da Secretaria para que ela cumpra seus objetivos.

UOL News - Que tipo de estrutura precisa ser melhorada na Secretaria?

Edson Santos - Quando se fala em estrutura, se fala em pessoal qualificado para atender as diversas demandas e isso exige do governo uma alocação de recursos que nos permita fazer este tipo de contratação.

UOL News - Durante a coletiva da ex-ministra que ela pediu demissão, ela deu a entender que havia um certo preconceito por estar no cargo e ser negra.

Como o senhor viu isso?

O Brasil ainda é um país racista?

Edson Santos - Eu não assisti [a entrevista] então eu não vou emitir juízo de valor sobre a entrevista da ministra.

Eu creio que ela tratou os temas como um todo, então fica difícil eu opinar sobre uma intervenção tão pontual.

Agora, o Brasil é um país que tem uma Constituição que condena os atos de discriminação e racismo.

A Constituição fixa como crime inafiançável e imprescritível e a lei que deriva da Constituição estabelece a punição para casos de racismo no Brasil.

Então o país, no seu arcabouço jurídico, não é racista.

Agora, existe racismo no Brasil, tanto que existe uma lei que visa coibir estes atos de racismo.

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