Por Isaltino Nascimento Após dez anos, o cinema brasileiro voltou a brilhar no Festival de Berlim, desta vez com Tropa de Elite, de José Padilha, conquistando o Urso de Ouro de Melhor Filme.

Na ocasião do seu lançamento, no ano passado, fui um dos convidados a opinar sobre o filme pelo Blog de Jamildo, que publicou um especial sobre a tão polêmica produção cinematográfica.

Volto a tratar do assunto para lançar uma reflexão sobre o significado que vejo na premiação ocorrida no último sábado.

Em primeiro lugar, destaco a importância da conquista para o cinema brasileiro, mesmo com as críticas ferozes que atraiu de importantes nomes da indústria cinematográfica do País e também do Exterior.

Como é notório, a última produção a conquistar o Urso de Ouro em Berlim foi Central do Brasil.

Voltar a ter um filme feito aqui alçado a esta condição é muito importante.

Afinal, dá destaque ao cinema nacional, que vem se reerguendo nos últimos anos, após um período de estagnação.

A premiação alemã também inverteu a lógica da comissão que escolheu o filme brasileiro indicado para o Oscar, que desconsiderou o filme de José Padilha.

Além disso, em sua temática chama a atenção para um problema grave vivenciado pelas polícias no Brasil, cuja origem foi a ditadura militar.

Quem não sabe que as tropas policiais, em sua maioria, foram instrumentos usados para perseguir e cercear a liberdade daqueles que se colocavam contra o regime, inclusive os que faziam cinema.

O que explica porque muitas destas polícias ainda são alvos fáceis da corrupção e vêem a violência como uma prática normal.

Como citei no artigo anterior, a polícia, surgiu ainda na época dos reinados para proteger a elite e deixar os plebeus muito distantes de suas riquezas.

Ou seja, para manter o status quo.

E, infelizmente, ainda é isso que ela representa hoje no contexto histórico em pleno século XXI.

Mostrando isso, o filme nos ajuda - expectadores - a refletir sobre estas e outras questões, o que é salutar.

Como afirmei no outro artigo, mesmo com seu grande diferencial em termos técnicos, faltou aos produtores de Tropa de Elite tratar sobre o cerne do problema do tráfico de drogas e de armas no País.

O roteiro preferiu culpar a classe média pela retroalimentação da criminalidade, quando o problema é muito mais grave, e ao meu ver, está nas grandes desigualdades que ainda persistem no País.

Com isso, reforço mais uma vez que nós, brasileiros, temos muito a fazer, já que essas desigualdades (pobreza extrema, fome, falta de moradia, lazer, alimentação, saúde e educação) alimentam as elites.

Estas, pouco citadas no filme, que jogou a problemática no colo da classe média, também vítima no meio deste tiroteio produzido pela violência.

Pela polêmica que gerou, desde a sua ploriferação em cópias piratas antes do seu lançamento, Tropa de Elite merece mais uma vez ser discutido.

Afinal, serviu para pôr em debate as questões que envolvem a violência no Brasil, evento para o qual devemos sempre estar atentos e combativos.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br) é deputado estadual pelo PT, líder do governo na Assembléia Legislativa e escreve para o Blog todas às terças-feiras.