Revista IMPRENSA A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condenou o que considera um “processo de intimidação da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) contra jornais e jornalistas”.

Em comunicado desta terça-feira, 19, a organização disse entender que o comportamento da Iurd “difere do legítimo direito de todo cidadão de buscar na Justiça a reparação de uma ofensa, o que a Abraji reconhece e defende”.

Ao contrário, “a ação orquestrada dos processos, além da intenção imediata de intimidar os três jornalistas -o que por si só já seria grave-, mostra que a igreja tem um objetivo mais amplo, mais duradouro e mais deletério”.

A organização considera as ações movidas pela Iurd como um recado a repórteres e empresas de comunicação, “buscando enredá-los em uma teia de temor difuso, que pode alcançar a todos e qualquer um, a qualquer momento, bastando que alguém se atreva a fazer aquilo que um jornalista faz cotidianamente por dever de ofício: investigar, relatar e publicar”.

Fiéis da Igreja Universal estão processando os jornalistas Elvira Lobato (Folha de S.Paulo), Bruno Thys (Extra, RJ) e Valmar Hupsel Filho (A Tarde, BA), por reportagens sobre a Igreja.

São mais de 50 ações contra Elvira, 35 contra Hupsel e cinco intimando Thys.

Como os processos são abertos em cidades distantes umas das outras e, muitas vezes, com audiência no mesmo dia, a Abraji considera “o trabalho de defesa extremamente difícil e a presença do jornalista intimado, impossível”.

Na nota, a organização alerta “para o crescimento, em vários países do mundo, especialmente no Brasil, da tendência de utilizar a Justiça na tentativa de impedir a livre circulação de informações.

Processados judicialmente, muitos jornais e jornalistas sentem-se intimidados para continuar a fazer investigações jornalísticas”.

A diretoria da organização propõe uma discussão aprofundada do fenômeno conhecido como “indústria de ações judiciais”.

E afirma que “são necessários mecanismos para impedir a eventual litigância de má-fé contra jornalistas e empresas de comunicação”.

Segundo a nota, “sem providências institucionais, corre perigo um dos pilares do Brasil democrático: o livre exercício do jornalismo para fiscalizar e bem informar a população”.

Os jornalistas e jornais processados contam com “solidariedade irrestrita” da Abraji, que “tem confiança de que o Poder Judiciário dará um desfecho para as ações de modo a não colocar em risco, de nenhuma forma, a prática do bom jornalismo e a liberdade de imprensa no Brasil”.